(O Globo| 08/05/2022 | Por Bianca Gomes, Mariana Rosário e Pâmela Dias)
A origem da palavra comemorar, sublinha a historiadora Heloisa Starling, é “lembrar juntos”. No Bicentenário da Independência, é preciso, diz uma das autoras de “Brasil:uma biografia”, enfatizar que o processo da emancipação de Portugal, fincado na escravidão e na monarquia, resultou em uma sociedade desigual, racista e violenta. E que dele foi excluída a maioria dos brasileiros: indígenas, negros, mulheres, e LGBTQIA+. Estes, como atestam os depoimentos colhidos para este especial, ainda procuram “suas independências”.
— Em 1822, as mulheres já reclamavam seu devido direito à voz pública, a população negra lutava decididamente pelo fim da escravidão e os indígenas defendiam suas terras e modo de vida. E tudo isso, somado à luta LGBT, continua, de certa forma, na pauta — diz a pesquisadora. — A reflexão central que a efeméride nos exige é a de lembrar o brasileiro que fomos, o que poderíamos ter sido em 1822, e, mais importante ainda, o que ainda queremos ser.
As raízes do descompasso entre a elite e a maioria da população na conquista da cidadania estão no contexto da sociedade brasileira do começo do século XIX — a escravidão, afinal, só foi encerrada 66 anos após o país tornar-se independente de Portugal.