Contato entre mãe e bebê no pós-parto traz benefícios, mas não é respeitado em muitos hospitais
Grávida. Positivo. Dois tracinhos. Basta um desses três estar impresso no teste de farmácia para a mulher vislumbrar seus próximos 9 meses: dores, hormônios desregulados, contrações e muitos, muitos mesmo, sentimentos. O que está fora do programado, mas faz parte da história de grande parte das pessoas, é ter uma experiência traumática no início da maternidade, a chamada violência obstétrica, depois de lidar com práticas hospitalares nem sempre necessárias que interrompem o primeiro contato das mães com seus bebês.
A importância do toque no pós-parto está associada a uma série de benefícios para a mulher, segundo Laís Peccia, mestra pela Faculdade de Saúde Pública da USP, entre eles estão: descarga de ocitocina, contração do útero e, consequentemente, a chance de ter uma hemorragia é reduzida; produção de hormônios que aumentam a autoconfiança materna para amamentar e, por isso, as taxas de aleitamento crescem. Do ponto de vista da criança, há uma regulação da temperatura corporal que diminui a possibilidade de hipotermia; o neném libera menos hormônios de estresse; a mortalidade neonatal é comprimida; há o estímulo do imprinting, fenômeno que faz os filhos reconhecerem suas mães.
Apesar de haver estudos que comprovam os benefícios para as mulheres e bebês e de apenas 10% destes precisarem da interrupção, “a taxa de contato pele a pele fica entre 40% e 60%, mas há hospitais com números menores, chegando a 20%. Em clínicas particulares, a tendência é que a taxa registrada seja ainda menor”, pontua Laís. O protocolo estabelecido é entregar o filho para a mulher assim que ele nasce, exceto se o bebê não conseguir respirar e, por isso, houver necessidade de uma reanimação neonatal. Na sequência, fazer o registro, a marca do pé, dar banho, pesar, medir e vacinar. As duas primeiras avaliações do pediatra também podem acontecer no colo da mãe. “A ideia estabelecida é que primeiro precisamos saber se o bebê está bem para depois entregar para a mulher. Quando o que deveria acontecer é o bebê ir para a mulher, exceto se ele não estiver bem”, completa.