Estudo avaliou o impacto de creches em tempo integral no Rio de Janeiro
Uma das políticas públicas que mais demanda investimentos no campo educacional é a ampliação de creches de tempo integral. Diante de orçamentos públicos limitados, há sempre o questionamento se o esforço compensa. A literatura acadêmica tem demonstrado que, quando bem-feito, sim, esse é um dos melhores investimentos possíveis, e com efeitos que vão muito além da sala de aula. Um estudo divulgado na semana passada pelo NBER (sigla em inglês para Centro Nacional de Estudos Econômicos, dos EUA) traz mais contribuições a este debate, analisando os impactos da expansão das creches em tempo integral na rede municipal do Rio a partir de 2007. De autoria dos pesquisadores Orazio Attanasio, Ricardo Paes de Barros, Pedro Carneiro, David K. Evans, Lycia Lima, Pedro Olinto e Norbert Schady, o trabalho mostrou que crianças, pais, e até irmãos mais velhos e avós foram beneficiados.
Por serem, entre outras razões, extremamente caras e trabalhosas, avaliações de impacto que separam aleatoriamente dois grupos para serem comparados são mais comuns em projetos-piloto. No caso do Rio, para fins de pesquisa, os pesquisadores se beneficiaram do fato de a rede municipal ter realizado em 2007 um sorteio entre 24 mil candidatos para 10 mil vagas em creches de atendimento integral. Isso permitiu que dois grupos fossem acompanhados ao longo do tempo: aqueles que conseguiram vagas e os que, infelizmente, não foram beneficiados naquele momento.
Em linha com a evidência já acumulada nesse tópico, o estudo mostrou que famílias beneficiadas tinham renda média superior entre 8% e 10% em comparação com aquelas que não tiveram a mesma sorte. O mais surpreendente, porém, foi a constatação de que não foram apenas pais e mães os beneficiados. Avós que residiam no mesmo domicílio da criança tinham 20 pontos percentuais a mais de chances de estarem trabalhando quando as crianças eram atendidas na rede municipal carioca. Efeitos positivos em termos de empregabilidade foram encontrados também em irmãos mais velhos. Esta é uma evidência importante pois, em muitos lares de maior vulnerabilidade social, o cuidado da criança não se restringe apenas aos pais e mães.
Esses efeitos comparativos positivos de renda e empregabilidade foram concentrados nos primeiros quatro anos após a matrícula nas creches. Depois, esse diferencial tende a desaparecer, o que é explicado pelo fato de a matrícula no ensino fundamental a partir dois seis anos de idade já estar praticamente universalizada no país.
O estudo identificou também outros impactos positivos relevantes. Por exemplo, o nível de estresse no ambiente familiar foi menor nos domicílios beneficiados. Ganhos foram identificados também para as crianças, que, quatro anos depois de terem sido matriculadas nas creches de tempo integral, registravam melhores indicadores de altura e peso em relação àquelas que ficaram de fora. Por fim, em linha com outras pesquisas internacionais, também foram registrados ganhos cognitivos e socioemocionais, mas esses foram em menor intensidade do que os demais efeitos, um sinal de que há ainda muito espaço a avançar no aperfeiçoamento desta política, e no atendimento escolar nas fases posteriores à creche.