Pesquisa inédita revela lado pouco conhecido do aprisionamento feminino. Além do crescimento explosivo, devido a um punitivismo primitivo, ele expõe detentas a condições sanitárias dramáticas. Adivinhe que grupos sociais são os mais atingidos?
O Brasil precisa olhar para a saúde de suas mulheres encarceradas. É o que sugere um artigo elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, Estados Unidos. Eles organizaram um estudo que avaliou, em 1.327 mulheres em presídios femininos em todas as regiões do país, alguns indicadores de saúde como presença de doenças infecciosas. Entre as condições analisadas estão ISTs, doenças crônicas, fatores de risco como uso de álcool, peso e nível de sedentarismo. Uma primeira conclusão que salta aos olhos é a de que as mulheres têm mais eventos adversos à saúde do que os homens presidiários.
Este foi o primeiro inquérito nacional feito para avaliar a saúde das mulheres encarceradas no Brasil, população que cresce a um ritmo mais acelerado que os homens. Entre 2000 e 2016, o aumento foi de 656%, e estima-se que aproximadamente 38 mil mulheres estejam cumprindo penas de privação da liberdade, hoje. O artigo, publicado na última edição da revista Ciência & Saúde Coletiva, traz os principais dados coletados sobre o perfil socioeconômico e sobre a saúde, e faz uma breve análise da situação. “A maior parte da população prisional é de procedência dos estratos mais pobres da sociedade, com acesso limitado a educação, renda e serviços de saúde. Como consequência, têm uma prevalência maior de doenças infecciosas, crônicas não transmissíveis e problemas de saúde mental.”
O Brasil é o país com a segunda maior população carcerária do mundo e dentro dos presídios há um retrato de nossas desigualdades sociais e de gênero. Entre as mulheres pesquisadas, 65% eram pretas ou pardas; 60% tinham cursado no máximo até o ensino fundamental; 22% estavam desempregadas quando foram presas, enquanto 23% eram trabalhadoras domésticas; quase 30% haviam sofrido violência sexual antes de chegar ao presídio e 16% dentro dele. As prisões brasileiras também confirmam uma “feminilização” da epidemia de HIV/aids: o vírus foi detectado em 2,3% delas, taxa mais alta do que entre internos masculinos.