(Mariana Sanches, colunista da revista Marie Claire) Desde que assumiu a presidência da República, Dilma Rousseff (PT) demonstrou a intenção de instalar mais mulheres do que nunca em postos de comando do governo. A princípio, o plano soou como um compromisso de gênero, um modo de combater o machismo e o preconceito. No Brasil, as mulheres ainda ganham menos que os homens e ocupam pouco mais de 30% dos cargos mais bem remunerados.
Uma mesa quase masculina: a presidente Dilma em reunião recente com Joseph Blatter, o presidente da Fifa, Pélé, embaixados da Copa 2014, Aldo Rebelo, ministro dos Esportes e o ex-jogador Ronaldo
No entanto, Dilma parece convencida de que optar por mulheres atende não apenas a sua militância feminista. Mulheres tenderiam a ser menos corruptas e melhores líderes do que os homens. O histórico do governo sugere que a impressão é verdadeira. Todos os ministros demitidos pela presidenta por suspeita de corrupção eram homens. E Dilma fez questão de substituir (por mulheres), chefes que, a seu ver, falharam em liderar suas áreas, como o ex-ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.
A intuição de Dilma acaba de ser confirmada por uma pesquisa publicada, no último dia 15, pela Harvard Business Review (aqui, em inglês). Os pesquisadores avaliaram 7.280 líderes das mais bem-sucedidas companhias, locais ou multinacionais, estatais ou privadas. Subordinados, colegas e superiores tiveram que avaliar os líderes em 16 diferentes categorias (como capacidade de inovar, tomar iniciativas, cultivar boas relações profissionais, dirigir a equipe para atingir metas, desenvolver as habilidades dos outros). O resultado? As mulheres se saíram melhor do que os homens em 12 das 16 categorias. As mulheres pesquisadas explicam o resultado favorável a elas dizendo que “têm de trabalhar mais do que os homens para se provar competentes” e que “sentem uma contínua pressão para nunca falhar”.
ELAS TAMBÉM SÃO MAIS HONESTAS?
Dilma e Angela Merkel em uma feira de tecnologia, na Alemanha, no começo de março. A chanceler alemã é uma das atuais mulheres fortes da Europa
O Banco Mundial também constatou vantagens quando as mulheres estão no poder. Um dos mais contundentes estudos feitos pelo órgão defende que elas são mais honestas do que eles. Em 1999, pesquisadores cruzaram os dados de números de parlamentares mulheres e índices de corrupção em dezenas de países. Constataram que quanto maior a quantidade de mulheres no Parlamento, menor a corrupção no país. Evidente que a correlação pode ser resultado de outros fatores. Uma sociedade mais inclusiva, menos preconceituosa ou com um índice de desenvolvimento humano mais alto tende a ter mais mulheres na política e menos políticos dispostos a surrupiar a verba pública para atender a seus próprios interesses. Mesmo assim, o resultado motivou países como o Peru a, em 2009, substituir todos os agentes de trânsito homens da capital Lima por mulheres. O governo local justificou a medida afirmando que elas seriam menos corruptíveis do que eles e mais rigorosas ao aplicar multas.
O debate em torno do assunto é espinhoso. Como mulher, é fácil concordar com as pesquisas, mas há quem argumente que elas chegam a conclusões espúrias. O próprio cotidiano desafia as afirmações científicas. Nas últimas semanas, a capacidade de liderança de Dilma Rousseff tem sido brutalmente questionada pelos seus próprios aliados. Um indicativo de que não é simples fechar questão sobre o tema. As pesquisas têm um trunfo inegável. Suas conclusões ajudam as mulheres a detonar o preconceito e exercer todo seu potencial. Mas não devem provocar o fenômeno inverso ao quadro atual – empurrar o estigma para o outro lado e criar discriminações contra os homens. E você, o que acha?
Acesse em pdf: As mulheres são chefes mais competentes do que os homens? (Marie Claire – 21/03/2012)