O procurador-geral da República, Augusto Aras, virou alvo de críticas após ofender a jornalista Miriam Leitão. A fala veio depois de ela publicar um texto em que informava sobre uma medida tomada por Aras sobre grupos da procuradoria que combatiam atos antidemocráticos. “Essa senhora parece que tem um fetiche comigo, talvez porque eu não tenha atendido às matérias seletivas para ela e a família dela. Essa senhora foi cortada da seletividade que tinha na Operação Lava Jato. E, provavelmente, o jornal dela ganhou mais dinheiro do que com a novela das 8”, afirmou Aras em entrevista ao site Bnews.
Quando homens jornalistas são ofendidos, eles são chamados de ‘militantes’, ‘parciais’ ou ‘burros’, ofensas que estão, em sua maioria, ligada a capacidades cognitivas. Dificilmente eles são atacados pelas vidas pessoais, pela aparência ou sexualidade — esta última só ocorre envolvendo situações de transfobia ou homofobia. Essas ofensas, portanto, têm como intuito atacar o lado profissional do jornalista, indicando que não se pode confiar nele e no poder dele contar a verdade. Rafaela Sinderski, coordenadora do projeto Violência de Gênero Contra Jornalistas, da Abraji.
“Existe esse ‘extra’ do gênero. A ofensa não parte das qualidades da pessoa como profissional, mas de outro lugar. Elas são chamadas de ‘feias, ‘gordas’, ‘vadi**’. Nesses casos, tentam desqualificar o trabalho delas, ou descredibilizá-las, por questões que não são cognitivas. O foco foge do trabalho como uma jornalista, mas parte para questões mais pessoais”, diz ela. Rafaela ainda explica que chamar o trabalho de uma jornalista de “fetiche” é uma forma de tentar retirá-la do local profissional.