Correspondente internacional por 35 anos, Christina Lamb foi a 12 países em cinco continentes para investigar abusos: ‘Ouvi de um combatente que o estupro é a arma mais barata que os homens conhecem’
“Existe, hoje, uma epidemia de estupros”. A frase forte é de Christina Lamb, 57 anos, correspondente internacional do britânico The Sunday Times e multipremiada pela cobertura de conflitos, incluindo anos de trabalho em Afeganistão, Paquistão, Líbia, Iraque, Síria e Nigéria. Condecorada pela rainha Elizabeth II com a Ordem do Império Britânico por sua contribuição ao jornalismo e coautora de “Eu sou Malala”, a biografia de Malala Yousafzai que vendeu 2 milhões de cópias, Lamb lança no Brasil, pela Companhia das Letras, o livro “Nosso corpo, seu campo de batalha”, quase 500 páginas de reportagem sobre o estupro usado como arma em guerras e zonas de conflito.
Os relatos recolhidos por ela são pura barbárie: estupros coletivos de crianças e mulheres ucranianas pelas forças russas postados em sites de pornografia, jovens yazidis sequestradas pelo Estado Islâmico e vendidas repetidas vezes no Iraque e na Síria por valores entre US$ 20 e US$ 5 mil, campos de estupro criados durante a guerra da Bósnia e, muito perto de nós, militantes de esquerda escravizadas sexualmente por militares durante a ditadura argentina.
O trabalho de Lamb mostra que o estupro é perpetrado por forças militares e também por grupos sectários e étnicos com o objetivo de humilhar e amedrontar comunidades de forma a controlá-las, como acontece agora na Ucrânia, e para eliminar grupos étnicos ou religiosos considerados rivais, como foi na Bósnia e em Ruanda.