Em um sistema discriminatório em que as vítimas são culpadas pelo mal a que são submetidas, geralmente é a palavra da vítima contra a palavra do suposto agressor, onde entra uma disputa de poder que não é somente individual, mas também institucional e estrutural.
Nesta terça-feira (11) foi veiculada a notícia sobre a acusação contra o professor da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, como um dos possíveis acusados de assédio sexual no Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra[3].
A forma com que foi feita a denúncia foi peculiar: os supostos fatos que configurariam o assédio foram escritos como o capítulo intitulado “The walls spoke when no one else would: autoethnographic notes on sexual-power gatekeeping within avant-garde academia” (As paredes falavam quando ninguém mais falava: notas autoetnográficas sobre o controle do poder sexual na academia de vanguarda, tradução livre), de autoria de Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom. O título do capítulo 12 pertence ao Livro “Má conduta sexual na Academia: para uma Ética de Cuidado na Universidade” (tradução livre) e faz referências à escrita de um dos muros do Centro em comento, com os dizeres “Fora Boaventura, todas sabemos”.