Brasil atinge níveis de mortalidade materna que não eram constatados no país há quase 30 anos.
Os mais recentes dados sobre a Razão de Morte Materna (RMM) publicados pelo Ministério da Saúde, em maio deste ano, mostram um aumento assombroso desse índice: o Brasil atingiu níveis que não eram constatados no país há quase 30 anos. Embora uma série de pactos e ações transnacionais tenham sido celebrados para estimular que os Estados adotem medidas para reduzir esses índices, o Brasil, governo, sociedade, estruturas e instituições seguem falhando na redução das mortes maternas. Essas taxas revelam omissões do Estado na garantia da saúde sexual e reprodutiva, sendo consideradas um indicador das desigualdades socioeconômicas, de discriminação baseada em gênero e de iniquidades.
A falta de políticas preventivas e reparatórias para emergências de saúde pública que coloquem saúde sexual e reprodutiva e as mulheres, meninas e pessoas que podem gestar no centro teve por consequência a tragédia evitável do alarmante aumento de mortes maternas durante a pandemia de Covid-19. Esse descaso pode ser evidenciado ao compararmos a RMM de 57,9 de 2019, pré-pandemia, à RMM de 117,4 em 2021: em 2021, as taxas foram duas vezes mais altas, já no início da pandemia o Brasil concentrava 77% das mortes maternas por Covid-19 no mundo. Esses dados são extremamente preocupantes, pois as causas das mortes maternas são evitáveis em mais de 90% dos casos, ou seja, 9 entre 10 mortes maternas não deveriam ter acontecido, mesmo durante uma pandemia.