Machismo ajuda a explicar baixo número de casos de trabalho doméstico e servidão sexual
A escravidão moderna de mulheres é subnotificada no Brasil. Nos últimos 20 anos, 2.488 foram resgatadas de condições análogas à escravidão, segundo a Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho. O número é 5% do total de trabalhadores resgatados na série histórica.
“Quando consolidamos os dados, isso chamou nossa atenção. Concluímos que o trabalho escravo doméstico e a escravidão sexual estão invisibilizados”, afirma Lys Sobral Cardoso, coordenadora da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) do Ministério Público do Trabalho (MPT).
O Detrae começou em 1995, mas o primeiro registro de resgate de trabalho escravo doméstico é de 2017. Já a escravidão sexual só aparece em 2019.
“Eu não me tocava que aquilo era trabalho escravo. Fui dominada pela mente das chefes, achava que era normal”, afirma Luara*, 22.
Ela foi aliciada em outubro de 2022, no interior do Ceará, para se prostituir em um bar no Distrito Federal com promessa de altos salários. O combinado era ter a passagem paga pelos aliciadores e descontada depois do trabalho sexual, com garantia de almoço. Nada disso aconteceu.