Embora o Brasil esteja à frente de muitos países nas metas de paridade de gênero, mulheres uniformizadas representam menos de 1% de todo efetivo já enviado entre 1992 e 2019
Quando Luanda Bastos assumiu em 2021 o posto de conselheira de gênero na República Democrática do Congo, em sua segunda missão de paz das Nações Unidas, havia poucas brasileiras em posições como a dela. A operação, instalada há mais de 20 anos devido à guerra civil que assola o país, atende a uma população extremamente vulnerável — na qual as mulheres são vítimas primárias da violência. Muito além da representatividade, destacar a hoje tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB) faz parte de uma estratégia mais ampla da ONU: investir em paridade de gênero para combater a violência contra mulher em zonas de conflitos históricos. Bastos, porém, não deixou de sofrer ela mesma os desafios de existir em um mundo construído para os homens.
— O mais complicado quando você está tentando se inserir nesse mundo é ser ouvida pelos homens, principalmente se for dar uma opinião de cunho mais operacional — relatou a tenente-coronel ao GLOBO durante o 10° Curso de Operações de Paz para Mulheres da ONU, realizado na Base dos Fuzileiros Navais entre 26 e 30 de junho.
Na função de conselheira de gênero no Congo, Bastos conta que a maior parte dos relatos que chegavam até ela eram denúncias de abusos sexuais. Para a tenente-coronel, o fato de ser uma mulher foi fundamental para que muitas vítimas se sentissem à vontade para pedir socorro.