Na Marcha de cem mil mulheres do campo a Brasília, ministra retomou diálogo com movimentos sociais e anunciou R$180 milhões para vítimas de violência. Trabalhadoras rurais comemoram conquistas – e preparam novas demandas
Em cada canto do país, elas se organizaram – como se organizam há 23 anos – e partiram para Brasília com suas bandeiras e reivindicações. Cem mil mulheres brasileiras do campo, da floresta e das águas concluíram na semana passada, nos dias 15 e 16 de agosto, a 7ª edição da Marcha das Margaridas. Com seu nome, a mobilização homenageia Margarida Maria Alves, liderança rural paraibana assassinada em 1983 por agentes do latifúndio, e busca manter vivo seu espírito de luta e organização, chamando atenção a cada quatro anos às pautas caras às trabalhadoras agrícolas.
Edjane Rodrigues Silva, diretora de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), saiu de Ouro Branco, no interior de Alagoas, para participar da Marcha. Na visão da dirigente sindical nordestina, “considerando a participação massiva de mulheres, a vinda de convidadas internacionais de 30 países e os anúncios do poder público, o resultado foi bastante positivo” – mas ela frisa que esta é uma avaliação inicial.
De fato, foram muitos os anúncios. Mais de uma dezena de ministros do governo Lula, além do próprio presidente (que apresentou em cerimônia na Esplanada dos Ministérios um caderno de respostas às demandas das margaridas), foi à Marcha se dispor ao diálogo com as trabalhadoras rurais. “Nós fizemos uma rodada intensa de negociações com vários ministérios, tratamos especificamente das ações que a gente considera mais emergenciais”, explica Edjane.
Um deles foi o Ministério da Saúde, que confirmou o retorno de políticas descontinuadas pela gestão passada e um novo contingente de investimentos na saúde do campo. De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, R$180 milhões serão investidos na qualificação do atendimento de mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência. Além disso, serão retomadas as atividades do Grupo da Terra – instância de diálogo do ministério com os movimentos sociais do campo – e as turmas de formação de Agentes Educadores e Educadoras em Saúde.