Em entrevista, Mariana Valente, que acaba de lançar ‘Misoginia na internet’, fala sobre a relação entre preconceito e inteligência artificial, o risco do excesso de criminalização e o fato de os ataques a mulheres não estarem ligados apenas a um espectro político
A atriz Carolina Dieckmann teve, em 2012, nudes disseminados internet afora depois de criminosos invadirem seu e-mail. Três anos depois, a jornalista Maju Coutinho recebeu toda sorte de ofensas, principalmente de cunho racista, após ter uma foto sua publicada nas redes sociais do Jornal Nacional. A professora universitária Lola Aronovich, autora de um blog de temática feminista, convive, desde 2008, com ataques sistemáticos de grupos misóginos organizados —incluindo ameaças de morte. A partir de exemplos de violência semelhantes, ocorridos entre 2012 e 2022, Mariana Valente, advogada e diretora do centro de pesquisa sobre tecnologia e direitos humanos InternetLab, elaborou o livro “Misoginia na internet”, recém-lançado pela Fósforo.
Professora da Universidade St. Gallen, na Suíça, Mariana aborda o potencial agregador das pautas e práticas feministas da internet e defende que a violência de gênero ganhou terreno na mesma proporção. Se as mulheres puderam se organizar, os ataques a elas também também ganharam espaço.
—Quando falamos da misoginia na internet, nos referimos claramente a ações que produzem efeitos na presença das mulheres na rede, mas também além desse espaço (virtual) — diz Mariana. — Disseminação de imagens íntimas, por exemplo, servem para vigiar a sexualidade delas. E não de uma em específico. É um aviso para todas.
Na entrevista a seguir, ela fala de temas como a relação entre preconceito e inteligência artificial, o risco do excesso de criminalização e o fato de os ataques a mulheres não estarem ligados apenas a um espectro político e serem direcionados a nomes como Michelle Bolsonaro e à ex-presidente Dilma.