Menos de uma semana após a III Marcha das Mulheres Indígenas, quando representantes de diferentes povos, biomas, regiões e territórios do Brasil e do mundo caminharam juntas pelas ruas de Brasília, um caso de extrema brutalidade mostra que a violência de gênero é uma dor que persiste. As mulheres indígenas se reuniram na capital federal de 11 a 13 de setembro e, neste domingo (17), a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) comunicou o assassinato de Maria Clara Batista, 15 anos, da etnia Karipuna. Ela foi vítima de violência sexual na cidade de Oiapoque, no Amapá.
No encerramento da III Marcha, as mulheres indígenas caminharam em direção ao Congresso Nacional para reivindicar o fim da violência contra os seus corpos e territórios. No mesmo dia em que caminhavam, Maria Clara foi estuprada. A jovem foi internada no Hospital Estadual de Oiapoque e, em seguida, transferida para uma UTI em Caiena, na Guiana Francesa. Mas não resistiu aos traumas e morreu na madrugada de domingo.
Após analisar câmeras de segurança, a polícias Civil e Militar prenderam em flagrante um pescador não indígena de 45 anos. Segundo o governo do Amapá, ele teve a prisão preventiva decretada e está à disposição da Justiça Estadual e Federal. O homem é acusado de outro estupro, ocorrido ano passado, e também responde por furto.
Segundo a Funai, Maria Clara foi violentada e afogada na lama, em uma área de pântano. Após o crime, ela conseguiu deixar o local e procurar ajuda. Apesar do atendimento médico, ela morreu vítima de uma infecção pulmonar causada pela ingestão de lama.
“O crime que tirou a vida de Maria Clara é um reflexo de uma sociedade que ainda enfrenta problemas como a intolerância, a desigualdade de gênero e a violência contra as mulheres, especialmente as indígenas. Este ato hediondo não afeta apenas a família enlutada, mas também todas as comunidades indígenas do Oiapoque, que clamam por justiça e proteção”, afirma a Funai.
A fundação se comprometeu a tomar medidas concretas para evitar que outras mulheres indígenas se tornem vítimas de violência sexual. “A Funai está fortalecendo sua atuação na promoção de políticas de prevenção e proteção, bem como no apoio às vítimas de violência de gênero, com a colaboração de organizações da sociedade civil, do sistema de Justiça e de outras instituições governamentais. A fundação reitera seu compromisso em enfrentar essa grave questão, enfatizando que todos os esforços serão empreendidos para garantir a justiça e a segurança das mulheres indígenas”.
Em nota, o Conselho de Caciques dos Povos Indígenas de Oiapoque prestou solidariedade aos familiares e denunciou que Maria Clara morreu “após ser vítima de um crime bárbaro onde pedimos justiça”.
O governo do Amapá informou que fará o processo de traslado do corpo até Estado. A Secretaria dos Povos Indígenas está em Oiapoque prestando assistência à família.
“Mais um crime bárbaro de feminicídio que deixa todo o povo amapaense consternado. O governo do Amapá se solidariza com a família, o povo Karipuna e todos os indígenas neste momento de extrema tristeza”, se manifestou o governo, também em nota.