Estadão acompanhou mães que tiveram filhos assassinados por agentes públicos por gabinetes e corredores do poder em Brasília
A onda de chacinas nas comunidades pobres brasileiras esconde um drama dentro do drama. Depois de enfrentarem o luto pela morte violenta de seus filhos, as mães das vítimas passam a sofrer com doenças psicológicas e desamparo do Estado. Essas mulheres de baixa renda não têm acesso a terapeutas, tampouco possuem acompanhamento de assistentes sociais e ainda convivem com o empobrecimento por perder um ente familiar economicamente ativo.
Aos 70 anos, Zilda Maria de Paula é uma dessas mulheres. Ela perdeu o filho único, Fernando Luiz de Paula, de 34, no dia 13 de agosto de 2015, no que ficou conhecido como a chacina de Osasco. Dona Zilda, como é chamada pelas companheiras do Movimento Mães de Maio, enfrenta sozinha a dor. Sua rede de apoio se restringe a outras mulheres do movimento social e aos nove cachorros com quem divide a casa no Jardim Mutinga, em Osasco. Ela também faz parte do Movimento Mães de Osasco e Barueri.
“As pessoas precisam ver as sequelas que isso deixou. O que esses caras (policiais) fizeram. O que o Estado fez. E o Estado não dá um socorro. Você não tem uma assistência social pra te acompanhar”, afirmou Dona Zilda à reportagem. O Estadão acompanhou, durante cinco meses, as histórias de mães de vítimas de chacinas e a trajetória dessas mulheres, em busca de políticas públicas de reparação, em gabinetes do governo e nos corredores do Congresso.
Busi, forma como os amigos do bairro chamavam Fernando, se recuperava de uma tuberculose quando foi assassinado. O jovem passou o dia pintando a casa da mãe, que fica na divisa de Osasco com Barueri, em São Paulo. Ao cair da noite, saiu de casa para encontrar os amigos no bar da esquina, como era comum às quintas-feiras. Quatro homens encapuzados se aproximaram do estabelecimento e abriram fogo, sem dizer uma palavra sequer. Onze pessoas morreram. Apenas dois sobreviveram.