Nesta quarta-feira (15), veio a público a condenação da jornalista Schirlei Alves, repórter investigativa e parte da Gênero e Número desde março deste ano. Alves foi sentenciada a um ano de prisão em regime aberto e R$ 400 mil em indenizações por uma vara criminal de primeira instância em Santa Catarina.
A sentença é um ataque direto à liberdade de imprensa e aos direitos das mulheres jornalistas, que busca intimidar a atuação jornalística de uma forma perversa, além de abrir precedentes perigosos. Na Gênero e Número, prestamos todo o nosso apoio institucional e solidariedade a Schirlei Alves e reforçamos que não vamos descansar enquanto essa injustiça não for revertida. E será. Cabe recurso e a Gênero e Número está articulada com outras organizações para reverter a condenação.
A coragem de Alves ao denunciar as ações do Judiciário brasileiro no julgamento de uma acusação de estupro contra a influencer Mariana Ferrer, em trabalho publicado no Intercept Brasil, motivou a criação da Lei 14.245, conhecida como Lei Mariana Ferrer, que protege as vítimas de crime sexuais e prevê punição para atos contra a dignidade de vítimas de violência sexual e das testemunhas do processo durante julgamentos.
Apesar desta inestimável contribuição para as mulheres do país, o que Schirlei Alves passou a vivenciar foi um pesadelo. Sua rotina de trabalho mudou completamente. Ela passou a sofrer ameaças que colocaram sua segurança física em risco e foi forçada a fechar seus perfis em redes sociais devido ao assédio e à violência de gênero que sofria online. A perseguição não parou por aí. O juiz Rudson Marcos e o promotor Thiago Carriço, que atuaram no caso, entraram com queixas-crimes contra Alves. O resultado foi a sentença absurda da juíza Andrea Cristina Rodrigues Studer, da 5ª Vara Criminal da Comarca de Florianópolis (SC).
Infelizmente, não se trata de um caso isolado: 42% das jornalistas mulheres já sofreram violência online devido à sua profissão e 25% precisaram fechar as contas em redes sociais após sofrer ataque online, segundo a pesquisa O impacto da desinformação e da violência política na internet, realizada pela Gênero e Número em parceria com a organização Repórteres sem Fronteiras.
“Eu fiz várias matérias investigativas, várias denúncias e obviamente isso incomoda pessoas e instituições. Então fui acostumada a ter que lidar com processo, mas era diferente, porque o alvo eram os veículos. A gente, repórter, tinha uma certa proteção (…) Mas de uns tempos pra cá, os ataques têm sido muito mais pessoais, voltados diretamente para jornalistas. E isso é uma forma de intimidar e de silenciar também o profissional”, contou Alves em entrevista à Gênero e Número em 2022.