O esgotamento das mulheres pelo trabalho de cuidado

04 de dezembro, 2023 Outra Saúde Por Gabriel Brito

Relatório da Think Olga analisa a saúde mental das brasileiras e alerta: quanto mais empobrecidas, mais sobrecarregadas. Ansiedade e depressão afetam milhões. Governo começará a fazer as mudanças necessárias?

Próximo ao fim do primeiro ano do governo Lula 3, Brasília receberá eventos que visam encaminhar importantes diretrizes no que diz respeito à saúde e aos direitos das mulheres. Entre 6 e 7 de dezembro, o Ministério das Mulheres promove o seminário Política Nacional de Cuidados. Já nos dias 11 a 14 de dezembro, ocorrerá a 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental.

Como documentado pela Think Olga, ONG cujas pesquisas dão suporte à elaboração de políticas de equidade de gênero, a crise social e econômica, acentuada pela pandemia do coronavírus, castigou mais severamente as mulheres. O relatório Esgotadas: o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres traz uma série de dados sobre tais questões e aponta que quase 60% delas sente alguma forma que sua saúde mental não vai bem.

“O dado de que 45% das mulheres são diagnosticadas com ansiedade ou com depressão é algo que nos chocou bastante. Porque estamos falando de quase metade das mulheres brasileiras. São diversos fatores que levam a essa condição. Ao mapear tais dados, vimos que o primeiro resultado que dá mais insatisfação, ou mais agrava a saúde mental das mulheres, é a situação financeira”, explicou Nana Lima, psicanalista ligada ao Think Olga, ao Outra Saúde.

Como indica Nana, não se tratam de meros distúrbios pessoais. Cada vez mais na “moda”, é infrutífero tratar da saúde mental dissociada das condições objetivas da vida material. Como já alertou o psiquiatra Paulo Amarante, em suas análises publicadas no Outra Saúde, não podemos encarar as frustrações relativas à falta de reconhecimento, dinheiro, emprego, participação política e acesso à cidadania como se fossem apenas questões psíquicas.

“É importante entender que o indivíduo não vai conseguir mudar questões estruturais, sistêmicas, então é muito positivo que se entenda a importância [do cuidado com saúde mental], mas o setor público precisa fazer o papel dele, olhar mais para a prevenção e não só remediar. Deve desenvolver e implementar políticas que reduzam as desigualdades de gênero e raça na distribuição de renda, acesso ao trabalho digno e combate a disparidades salariais. Esses dados no Brasil são gritantes, de maneira que o setor público e a gestão de saúde podem trabalhar nisso, principalmente na questão da prevenção”, corrobora Nana Lima.

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