Católicas e evangélicas se organizam em grupos que defendem autonomia da decisão da mulher sobre gestação
O que levou a socióloga Maria José Rosado, a ex-freira Zeca, a se organizar dentro da Igreja Católica para defender o direito de toda mulher ao aborto?
Bom, não foi da noite para o dia que essa feminista cristã decidiu peitar uma posição histórica do Vaticano. Mas uma história a marcou mais do que todas as outras.
Ela já havia ajudado a fundar a Católicas pelo Direito de Decidir, ONG que desde 1993 questiona leis eclesiásticas sobre os direitos reprodutivos e a autonomia feminina sobre o corpo, quando conheceu a história de uma mulher atendida no Hospital Jabaquara, em São Paulo. Foi ali que, em 1989, a gestão da então prefeita Luiza Erundina começou um pioneiro programa de aborto legal na América Latina.
Essa paciente que tanto impactou Zeca havia contado, numa entrevista, que já era mãe de um casal de adolescentes. “Ela gerou ambos os desejando muito. O que tinha na barriga eram seres humanos que queria trazer ao mundo.”
Certa madrugada, a caminho do trabalho, ela foi estuprada e engravidou. “Dizia que o que tinha dentro dela não era um ser humano, era outra coisa que só queria que tirassem de dentro dela.”
A interrupção de uma gestação que seja potencialmente fatal para a mulher ou fruto de um estupro é admitida desde 1940 no Código Penal brasileiro. Em 2012, o STF (Supremo Tribunal Federal) também descriminalizou procedimentos se o feto fosse anencéfalo. Mas, nos últimos anos, até mesmo esses três casos previstos numa dura legislação antiaborto estão na mira de movimentos conservadores, muitos com alta voltagem religiosa.