Quem cuida de quem cuida? A pergunta chama atenção para as ausências e vulnerabilidades de diversas mulheres protagonistas das relações de cuidado no Brasil, seja de crianças, idosos ou no cotidiano de organização e administração doméstica e familiar – tarefas realizadas majoritariamente sem qualquer tipo de remuneração –, seja nos trabalhos de babás, diaristas, trabalhadoras domésticas, enfermeiras, cuidadoras de idosos e Pessoas com Deficiência (PcD), professoras de creches e escolas infantis, que normalmente são mal remuneradas e precarizadas. Organizações e movimentos feministas têm evidenciado o quanto essa dinâmica gera desigualdades para mulheres e meninas, além da falta de reconhecimento da contribuição à economia que tais trabalhos geram (Oxfam, 2023).
Diante dessas desigualdades, há um forte movimento de formulação de políticas públicas para transformar a “organização social do cuidado” em alguns países latino-americanos (Cepal, 2021). A proposta parte justamente de dados relacionados às desigualdades de gênero na divisão e na responsabilidade pelas tarefas domésticas e de cuidado, com o objetivo de reorganizar essa dinâmica a partir de um modelo de corresponsabilidade social, em que a sociedade civil, o setor privado e o Estado também sejam agentes fundamentais na produção de cuidados humanos.