Costumamos colocar questões a partir de estatísticas porque as estatísticas dão a impressão de que há alguma racionalidade nos processos analisados. A racionalização, por sua vez, protege da angústia, do medo e do pavor causado por certos fenômenos.
Esse é o caso do feminicídio como fenômeno social crescente em nível nacional e mundial. O termo feminicídio é usado há décadas para designar um tipo de assassinato relacionado à condição feminina. Esse tipo de assassinato parece se tornar cada vez mais comum como se pode ver pelas estatísticas trazidas pelos noticiários, nos quais a notícia seca também ajuda a esconder o caráter tenebroso do fenômeno. O avanço dos feminicídios aponta para o caráter terrorista do patriarcado voltado à ameaça e à matança.
Certamente, em uma época em que tudo se torna espetáculo, ou seja, quando a lógica do capital captura toda imagem como mercadoria, nessa época, também caracterizada pela visibilização de todas as coisas, tendo em vista que a lógica do capital transforma até mesmo o horror em mercadoria, o feminicídio aparece mais do que em outras épocas.
Porém, ao contrário de ser apresentado como um horror, ele figura nos meios de comunicação e na internet, como algo banal, dificilmente sendo objeto de horários nobres ou de manchetes de jornais ou de portais de notícias.