Mulheres ainda correm riscos em abrigos que estão recebendo desalojados; movimentos feministas pedem a aprovação de um protocolo diferenciado de proteção às mulheres e crianças em situação de emergência climática. Documento já foi encaminhado ao governador Eduardo Leite
“São mulheres de todas as idades em uma situação de profunda insegurança sobre seu presente e o seu futuro.” É assim que a jornalista, cientista política e ativista Telia Negrão classifica o que viu nos abrigos que estão recebendo os desalojados em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.
Integrante do coletivo Querelas, ela também é uma das coordenadoras da campanha nacional Levante Feminista Contra o Feminicídio, criada durante a pandemia de Covid-19. Nos últimos dias, tem ouvido relatos de mulheres que estão sofrendo abusos físicos, psicológicos e sexuais. Segundo Negrão, elas dizem que os crimes ocorreram ainda durante os resgates.
“No início, quando iniciaram os salvamentos, as mulheres já começaram a ser penalizadas desproporcionalmente em relação às outras pessoas, porque nas atividades de salvamento, estavam sendo retiradas de situações de quase-morte e deixadas em locais que não lhes deram a segurança necessária. Nós começamos a ter casos já no salvamento, no pós-salvamento, de mulheres passando por situações de assaltos e estupros”, diz.
Preocupados com a gravidade da situação, grupos organizados de mulheres começaram a atuar nos abrigos. “Quando chegavam as vítimas das enchentes, além de relatar o trauma de perder suas casas e familiares, relataram situações de violação sexual, além de muitos casos de separação de mães dos seus filhos. Tivemos um caso gravíssimo de uma mulher em Canoas (RS), que estava com bebês gêmeos nos braços, e um dos bebês caiu na água, morreu e não foi localizado. São situações que mostram como é diferenciada a situação das mulheres em momentos de conflito ou de crises”, detalha.