Estupros em abrigos mostram que tragédia não é só climática, por Nina Lemos

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Thales Renato/Mídia Ninja

15 de maio, 2024 Deutsche Welle Por Nina Lemos

Além das chuvas, também o machismo castiga as vítimas no Rio Grande do Sul: depois de “perderem tudo”, mulheres e crianças ainda correm risco de serem estupradas em abrigos.

“A mudança climática não tem gênero neutro. As mulheres e as crianças vão sofrer os maiores impactos e estarão expostas a riscos que irão afetar sua sobrevivência, saúde e segurança.”

Esse trecho faz parte de um relatório sobre o impacto das mudanças climáticas na vida das mulheres e foi publicado pela ONU Mulheres em 2022, mas parece ter sido escrito especialmente sobre a tragédia que há duas semanas assola o Rio Grande do Sul.

O estado sofre uma das maiores catástrofes climáticas já vistas no país. Até esta segunda-feira (13/05), 147 pessoas tinham morrido, 127 estavam desaparecidas, mais de 800 estavam feridas e mais de 500 mil, desalojadas. Mais de 80 mil pessoas estavam em abrigos.

Obviamente, todo morto, desabrigado e atingido de alguma forma pela enchente é vítima, independentemente de gênero e orientação sexual, mas mulheres sofrem traumas particulares e enfrentam riscos maiores. Falo, claro, dos inacreditáveis casos de violência sexual registrados em abrigos durante a tragédia.

Quando os desabrigados começaram a ir para abrigos, logo apareceram as denúncias: mulheres e crianças estariam sofrendo violência sexual nesses locais de socorro.

Até sexta-feira passada, oito pessoas haviam sido presas por estupros em abrigos, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. Mas as denúncias mostram que o número real de assédios praticados é muito maior.

O risco de violência sexual fez com que abrigos só para mulheres e crianças se tornassem uma urgência. Alguns já foram montados, a toque de caixa, pelo governo e entidades feministas e humanitárias. Entre os que ajudam nesses abrigos estão muitas mulheres, que conseguem imaginar o que as vítimas no Rio Grande do Sul estão passando.

Não estou dizendo, claro, que homens não se revoltem com essa situação. Neste domingo no Rio de Janeiro, o motorista de táxi com quem conversei, pai de duas meninas, estava indignado. “Eu tenho duas filhas, uma de 7 e uma de 10, quando vejo essas coisas fico desesperado pensando nelas”, disse.

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