“PL do estupro” desconsidera a justiça reprodutiva, por Marcia Maria da Cruz

24 de junho, 2024 The Conversation Por Marcia Maria da Cruz

Ativistas do direito ao aborto marcharam na Avenida Paulista, em São Paulo, contra o projeto de lei anti-aborto no Congresso.

Na manhã do último 12 de junho, dia dos namorados, nós mulheres brasileiras acordamos com a possibilidade iminente de um controle absurdo sobre nós. É assustadora e perturbadora a proposta que quer penalizar a mulher por ela exercer o direito ao próprio corpo, à própria vida. Esse mundo distópico pode começar a se tornar real, se for aprovado o projeto de lei 1904/2024, que altera o Código penal, equiparando a punição de abortos legais realizados após as 22 semanas de gestação à pena por homicídio.

Em vez de estarmos discutindo o “PL do Estupro”, o Congresso Nacional deveria propor projetos de lei que garantissem a justiça reprodutiva às mulheres. Se o princípio dos legisladores que propuseram o PL 1904/2024 fosse de fato a defesa da vida, como pretendem dar um caráter defensável a essa proposta absurda, a discussão passaria necessariamente pela elaboração de políticas que garantam os direitos reprodutivos, que determinam a proteção legal e a criação de uma rede adequada para que mulher tenha acesso à saúde reprodutiva, com foco em aumentar o acesso à contracepção e garantir o aborto legal.

Justiça reprodutiva

O termo “justiça reprodutiva” foi criado por mulheres negras em Chicago, nos Estados Unidos em 1994 para definir o direito à autonomia do próprio corpo na decisão de ter ou não filhos.

No Brasil, é uma luta dos movimentos feministas, e tem sido amplamente trabalhado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra e pela organização da sociedade civil Criola. Foram as mulheres que primeiro denunciaram a aberração da proposta, com ressonância em toda a sociedade civil; artistas, formadores de opinião, especialistas e ativistas que se mobilizaram contra o PL 1904/2024.

Diante da pressão de parcela significativa da população brasileira, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que a discussão do “PL do Estupro” foi adiada para o segundo semestre.

O recuo é motivo para comemorar, mas os riscos do PL ser aprovado no futuro próximo é um ataque frontal à saúde das mulheres e seus direitos reprodutivos. É preciso estarmos atentas e fortes!

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