Mesmo fora do território, elas buscam formas de resistir às invasões e lutar pelo seu povo
Sete famílias indígenas, formadas na maioria por mulheres, dos povos Kumaruara, da aldeia Muruari, tiveram que migrar do seu território devido às mudanças climáticas e delitos ambientais. Elas vivem na altura do rio Tapajós, no estado do Pará, onde o incêndio e os fogos afetaram o igarapé local, que secou.
Pouco tempo após a aldeia se restabelecer com o fim da pandemia da Covid-19, uma madeireira ameaçou abrir uma estrada, que iria passar dentro do território, podendo assim facilitar o estabelecimento de um tráfico de drogas ilícitas. As Kumaruaras não foram consultadas sobre essa construção. “Fizemos uma retomada para barrar esse avanço, nós, mulheres, e conseguimos resistir”, comenta a líder indígena Luana Kumaruara.
Durante o governo Bolsonaro, esses tipos de ataques e crimes ambientais na Amazônia pioraram, com o desmonte de diversas políticas de proteção florestais. Nesse período, o território Muruari recebeu a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CID). No evento, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro pró-agronegócio intimidaram os indígenas.
“Eu filmei, aí um deles me bateu e quebrou meu celular, depois fui ameaçada por e-mail”, diz Luana, que denunciou, mas nunca entrou em nenhuma rede de proteção. Se sentindo desassistida pelo Estado e com medo, ela deixou seus dois filhos com a família no território e migrou para a capital Belém. “Saí na cara e na coragem por conta das violências e pela segurança dos meus filhos”, diz.
Região é a que tem mais deslocadas ambientais
A realidade de Luana é a de muitas mulheres indígenas na Amazônia. Elas migram para evitar situações de violência por conta das invasões, garimpos clandestinos, tráfico de drogas, pesca, caça predatória e conflitos com madeireiras. Os crimes ambientais, distintos em cada território, agravam as mudanças climáticas e geram escassez de recursos naturais, impactando também a economia local. “Falta mel, ervas e insumos para produção das nossas medicinas”, conta Luana.
O Brasil ocupa o primeiro lugar nas Américas em deslocamentos internos. Em 2022, 708 mil pessoas tiveram que migrar dentro do país por conta de desastres naturais, e 5.600 por conflito e violência devido à disputa de terras, conforme números do Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno (IDMC, na sigla em inglês), uma entidade internacional.
Não há dados quantitativos oficiais do governo brasileiro sobre a migração interna, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM). O Atlas Digital de Desastres do Brasil traz uma definição mais próxima de pessoas “desalojadas e desabrigadas” pelas mudanças climáticas e crimes ambientais.
Segundo o informe, a região Norte do Brasil, onde se concentra a maioria da população indígena (44,48%), é a mais afetada. Os estados do Pará e Amazonas têm o maior número de vítimas. No Pará, ocorreram 582 casos de desastres climáticos que deixaram 460 mil desabrigados nos últimos 10 anos da pesquisa (2012–2022).