‘Traga a permissão por escrito do seu marido’: as duras leis que iranianas enfrentam para conseguir emprego

15 de agosto, 2024 BBC News Por Faranak Amidi

“Em uma entrevista de emprego, eles me pediram que levasse uma declaração por escrito do meu marido, para comprovar que eu tinha a permissão dele para trabalhar.”

Neda tem grau de mestrado em engenharia de petróleo e gás no Irã. Ao ouvir aquilo, ela conta que se sentiu humilhada.

“Respondi que sou adulta e tomo minhas próprias decisões.”

Sua experiência não é um caso isolado. Legalmente, as mulheres casadas no Irã precisam da autorização dos seus maridos para trabalhar. E esta é apenas uma das muitas barreiras legais que elas enfrentam quando querem entrar no mercado de trabalho.

Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2024, classifica o Irã entre os piores lugares do mundo em relação às barreiras legais de gênero no mercado de trabalho. O país fica à frente apenas do Iêmen e da Cisjordânia/Faixa de Gaza.

Outras estatísticas confirmam esta situação. O recente relatório Global Gender Gap (“Disparidade de gênero global”, em tradução livre), publicado pelo Fórum Econômico Mundial em 2024, indica que o Irã tem o menor índice de participação das mulheres no mercado de trabalho, entre os 146 países pesquisados.

As mulheres representam mais de 50% das pessoas com formação universitária do país, mas elas compõem apenas 12% do mercado de trabalho, segundo dados de 2023.

As leis de gênero, o assédio sexual generalizado e as frequentes visões sexistas sobre as mulheres e suas habilidades tornam o ambiente de trabalho muito hostil para as mulheres.

A maior parte das mulheres com quem a BBC conversou para esta reportagem declararam que não se sentem levadas suficientemente a sério no trabalho.

“Diversas barreiras legais e culturais mantêm as mulheres fora do mercado de trabalho no Irã”, segundo a ex-consultora do Banco Mundial, Nadereh Chamlou.

Ela afirma que fatores como a falta de bases jurídicas e as limitações legais em vigor, além de uma enorme disparidade salarial de gênero e “um teto de vidro muito baixo”, contribuem para a limitada participação das mulheres no mercado de trabalho iraniano.

É legal… e cultural

Os homens sabem que, legalmente, podem impedir suas esposas de trabalhar – e alguns fazem uso deste privilégio legal.

O empresário iraniano Saeed contou à BBC que, certa vez, “um marido furioso irrompeu no nosso escritório, empunhando uma vara de metal no ar e gritando, ‘quem deu permissão para você contratar minha esposa?'”.

Ele conta que, agora, sempre pede a autorização do marido por escrito, antes de contratar uma mulher.

Razieh é um jovem profissional que trabalha em uma empresa privada. Ele relembra um incidente parecido, quando um homem furioso invadiu seu escritório e disse ao CEO (diretor-executivo): “Não quero a minha esposa trabalhando aqui.”

A mulher era uma contadora sênior. O CEO precisou dizer a ela “vá para casa e tente resolver as coisas com o seu marido”, segundo Razieh. “Caso contrário, a mulher precisaria se demitir, o que ela acabou fazendo.”

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