Especialista da ONU alerta sobre restrições ao aborto legal, marco temporal e reconhecimento facial no Brasil

21 de agosto, 2024 Conectas Por Redação

Em visita ao país, Relatora Especial da ONU sobre formas contemporâneas de racismo, Ashwini K.P., esses temas têm relação direta com a desigualdade racial no Brasil; ela solicita ações ousadas e transformadoras para enfrentar o racismo sistêmico

Após uma visita de 12 dias ao Brasil, a Relatora Especial da ONU sobre formas contemporâneas de racismo, Ashwini K.P, apresentou um relatório detalhando diversas preocupações relacionadas aos direitos humanos e à discriminação étnico-racial no país. Entre os pontos mais críticos, destacam-se os ataques ao aborto legal e a tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas. A especialista das Nações Unidas também pediu o avanço do uso de câmeras corporais por policiais e manifestou preocupação com o caráter racista de serviços de reconhecimento facial.

Ashwini K.P esteve em Brasília (DF), Salvador (BA), São Luís (MA), São Paulo (SP), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ) entre os dias 5 e 16 de agosto. Ela se reuniu com representantes governamentais estaduais e federais, comunidades que sofrem discriminação racial, além de mais de 120 representantes da sociedade civil.

Restrições ao aborto legal

O acesso restrito ao aborto legal no Brasil, especialmente para mulheres de grupos raciais e étnicos marginalizados, foi um dos temas abordados pela Relatora. Ela enfatizou que, embora o aborto seja permitido em casos específicos como estupro, anencefalia fetal e risco à vida da mulher, muitas ainda enfrentam barreiras significativas para acessar esses serviços. Um caso em Santa Catarina, onde uma menina de 11 anos foi pressionada a não interromper uma gravidez resultante de estupro, foi citado como exemplo das dificuldades enfrentadas. Ashwini K.P pediu ao Brasil que descriminalize o aborto em todas as circunstâncias e garanta o acesso seguro e legal aos serviços de aborto e pós-aborto, ressaltando a necessidade de assegurar a autonomia corporal das mulheres.

Marco temporal e direitos territoriais

A relatora também expressou séria preocupação com a aplicação da tese do marco temporal, que limita o reconhecimento de terras indígenas às que estavam sob posse dos povos indígenas na data de promulgação da Constituição de 1988. Segundo Ashwini K.P, essa tese ignora a longa história de violência e deslocamento sofrida pelos povos indígenas, como os Xokleng em Santa Catarina, e representa uma ameaça aos direitos territoriais. Ela destacou que, apesar de alguns avanços recentes na demarcação de terras, o ritmo atual é insuficiente, levando a um cenário de violência contínua contra comunidades indígenas e quilombolas.

Uso de câmeras corporais e inteligência artificial

Em relação à segurança pública, a especialista abordou o uso de câmeras corporais e sistemas de reconhecimento facial por forças policiais no Brasil. Ela elogiou a iniciativa do Ministério da Justiça de promover o uso de câmeras corporais, mas apontou que sua implementação ainda é ineficaz em muitos estados. Além disso, expressou preocupação com o uso crescente de sistemas de reconhecimento facial, que, segundo ela, podem exacerbar o perfilamento racial e a violência contra afrodescendentes e outros grupos marginalizados. Ashwini K.P pediu uma regulamentação rigorosa e baseada em direitos humanos para o uso dessas tecnologias, visando proteger os direitos das comunidades afetadas.

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