Os sinais silenciosos da violência obstétrica

26 de agosto, 2024 Revista Ana Maria Por Jéssica Batista

Saiba o que é violência obstétrica e como se proteger dessa forma de violência no parto, gestação e puerpério através de um pré-natal bem informado

A violência obstétrica afeta milhares de mulheres, não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. Essa forma de violência acontece durante a gestação, parto ou pós-parto, inclusive no atendimento ao aborto. De natureza física, psicológica ou verbal, ela pode acontecer também na forma de negligência, discriminação, condutas excessivas ou não aconselhadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que desde 1996 traz recomendações sobre o que deve e o que não deve ser feito durante o parto.

Dados preliminares do estudo ‘Nascer no Brasil 2’, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelaram que adolescentes e mulheres negras com mais de 35 anos e baixa escolaridade têm mais risco de sofrer violência obstetrícia. O estudo acompanhou 24.255 mulheres que ingressaram no Sistema Único de Saúde (SUS) para o parto ou por perda fetal precoce entre outubro de 2020 a novembro de 2023.

AnaMaria conversou com Anna Beatriz Herief, obstetra especialista em parto humanizado, que listou os sinais que caracterizam a violência obstétrica e quais são as ferramentas fundamentais para combater essa prática que deixa marcas profundas em mulheres submetidas a ela. Confira a seguir!

Conheça os sinais da violência obstétrica

A violência obstétrica é uma realidade global, não se restringindo ao Brasil. “As mulheres estão sujeitas a essa forma de violência em todo o processo de gestação, parto e puerpério, inclusive no atendimento ao aborto. Mesmo em países onde as enfermeiras obstetras estão à frente da assistência e o parto domiciliar é mais comum, as gestantes ainda podem sofrer violência obstétrica”, diz Anna Beatriz.

Ela destaca que práticas desnecessárias, como o “push, push, push”, em tradução livre “empurre, empurre, empurre”, durante o parto, são comuns em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e partes da Europa. Essa prática pode trazer riscos tanto para a mãe quanto para o bebê, aumentando, por exemplo, o risco de lacerações.

Em geral, a violência se manifesta silenciosamente. As práticas muitas vezes são prejudiciais e sem embasamento em evidências científicas recentes e atualizadas. Elas submetem mulheres a protocolos e rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos e as impedem de exercer o protagonismo durante a gestação, parto ou puerpério.

“Muitas dessas situações são tão comuns que algumas mulheres nem se dão conta da violência que sofreram”, diz Anna.

Confira a seguir alguns exemplos de violência obstétrica:

  • Lavagem intestinal, raspagem de pelos e restrição de dieta na hora do parto;
  • Ameaças, gritos, piadas ou tapas (sim, tapas);
  • Impedir a mulher de se movimentar livremente e obrigá-la a ficar em posição ginecológica;
  • Omissão de informações, desconsideração das opiniões, padrões e valores culturais da mulher e parturientes e divulgação pública de informações que possam infantilizá-la ou prejudicá-la;
  • Não permitir acompanhante de escolha;
  • Não oferecer apoio para alívio da dor;
  • Manobra de kristeller — técnica agressiva, que consiste em pressionar a parte superior do útero para acelerar a saída do bebê;
  • Episiotomia — um corte na vulva e na vagina feito com uma tesoura ou bisturi, comumente chamado de ‘pique’ ou ‘episio’;
  • Impedir o contato pele a pele da mãe com o bebê e a amamentação na primeira hora de vida (caso nascimento sem intercorrências) ou separá-los por protocolo.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas