Ministério da moralidade adverte: é proibido ser mulher no Afeganistão, por Becky S. Korich

27 de agosto, 2024 Folha de S. Paulo Por Becky S. Korich

As mulheres afegãs precisam de todas nós

Em 2021, depois da retirada das forças estrangeiras do Afeganistão, o Talibã criou um ministério para a “Propagação da Virtude e a Prevenção do Vício”, suspendendo a constituição anterior e estabelecendo seu governo baseado nas suas próprias leis.

Na última quarta-feira (21), a Lei de Moralidade foi oficialmente promulgada e publicada, depois de ser ratificada pelo líder espiritual supremo Hibatullah Akhundzada. O objetivo: “promover o bem e proibir o mal” de acordo com a sharia Islâmica.

As medidas afetam em sua maioria as mulheres, impondo restrições ainda mais severas aos seus direitos. Eis alguns exemplos: mulheres devem cobrir o rosto e corpo para evitar “causar tentação”; não podem usar roupas “atraentes, justas ou reveladoras”; é proibido andar em ônibus desacompanhada por homens; é proibido usar cosméticos ou perfumes, para evitar a imitação de estilos de mulheres não muçulmanas; é proibido cantar, recitar ou ler em voz alta em público; é proibido olhar para homens com quem não tenham parentesco consanguíneo.

Embora muitas dessas regras já estivessem em vigor, a legalização delas intensifica as intoleráveis restrições aos direitos das mulheres, que vivem em constante medo e sofrem abusos arbitrários.

Desde que os talibãs retomaram o poder no Afeganistão, meninas foram excluídas da educação. Pelo menos 1,4 milhão de adolescentes foram proibidas de frequentar o ensino médio.

O Talibã afirma respeitar os direitos das mulheres e meninas de acordo com sua interpretação da lei islâmica e dos costumes locais, alegando que são questões internas que devem ser tratadas localmente.

Não é o que pensam as mulheres do país. “Dia após dia, eles estão tentando apagar as mulheres da sociedade”, disse uma dona de casa de 37 anos em Cabul. “O silêncio da comunidade internacional em relação às ações do Talibã os está encorajando a criar novas leis e restrições todos os dias”, acrescentou a mulher, identificada apenas pelo primeiro nome, Halema.

As penalidades por violações às normas incluem “conselhos, advertências de punição divina, ameaças verbais, confisco de propriedade, detenção de uma hora a três dias em prisões públicas e qualquer outra punição considerada apropriada”, conforme informou o Ministério da Justiça. Se essas medidas não forem suficientes para corrigir o comportamento da pessoa, ela é encaminhada ao tribunal para novas medidas. Sabe-se lá quais medidas são essas.

A situação das mulheres afegãs está entre as piores do mundo, sendo descrita como um “apartheid de gênero” pelo relator especial das Nações Unidas, Richard Bennett.

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