Consulta de Enfermagem ginecológica reduz mortalidade materna no interior do Brasil

24 de setembro, 2024 Cofen Por Redação

“Mulheres morrem por aborto inseguro porque têm medo de nós, profissionais de Saúde”, alerta a enfermeira Dannyelly Costa. “Mais do que ampliar o acesso ao DIU, nosso papel é acolher a mulher sem julgamentos e respeitar a liberdade de escolha”

A atuação da Enfermagem no planejamento reprodutivo está ampliando o acesso a contracepção de longa duração e contribuindo para a redução da mortalidade materna no interior do Brasil. Conforme dados do Ministério da Saúde, enfermeiros foram responsáveis pela expansão do acesso ao dispositivo intrauterino (DIU), tendo realizado 61% das inserções na Região Norte, 43,6% das inserções na Região Nordeste e mais de um terço das inserções na Região Centro-Oeste em 2022.

“A inserção ou não do DIU é o topo da pirâmide. A base de uma consulta de Enfermagem qualificada é uma escuta atenta, sem julgamentos. Aos poucos uma nova história vai sendo concluída, com liberdade de escolha”, afirma a enfermeira obstétrica Dannyele Costa. Presidente do Coren-AL, Dannyle coordenou a Comissão Nacional de Saúde da Mulher do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e participou da sessão científica sobre Planejamento Sexual e Reprodutivo, no 26º Congresso Brasileiro do Conselhos de Enfermagem, juntamente com Mageany Reis (Coren-PI) e Josiellyda Teixeira (Coren-RO), com relatoria de Mara Bastos.

É preciso desmistificar o DIU. A falta de informação da população em geral, começando pelos profissionais de Saúde, é o primeiro obstáculo à ampliação do acesso, na avaliação das palestrantes. Faltam, ainda, profissionais qualificados para inserção e retirada do DIU na Atenção Primária à Saúde (APS). Altamente efetivo (99%), o DIU de cobre disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) não contém hormônio e tem o melhor custo-benefício, considerando a sua longa duração. Não interfere na lactação e permite um retorno rápido à fertilidade, caso a mulher decida engravidar.

Mulheres morrem por medo e precariedade na assistência

A maior parte das gestações no Brasil são não planejadas (55%). Em 2023, foram 66.381 mil mortes relacionadas a gestação, segundo dados do Ministério da Saúde. As principais causas são hipertensão, hemorragia, infecção, puerperal e aborto inseguro. “E o que a inserção do DIU muda? Muda a gravidez na adolescência, porque podemos inserir o DIU independente a mulher ter ou não filhos, mesmo em menores de idade. Garante a liberdade da escolha, o direito de seguir seus sonhos e planejar a gravidez. Tudo isso interfere na mortalidade materna e nas condições de vida da família”, afirma.

“Não é nosso papel julgar as mulheres, seja por terem muitos filhos, seja por não quererem filho algum. É preciso dizer que as mulheres estão morrendo no Brasil por abortos inseguros porque têm medo de buscar ajuda dos profissionais de Saúde. Têm medo de nós”, alertou Dannyele. A legislação brasileira assegura, desde 1940, o direito a aborto legal para vítimas de estupro. No caso de crianças abaixo de 14 anos, o estupro é presumido, sendo dever profissional o encaminhamento aos serviços especializados.

A existência de protocolos assistenciais é fundamental para direcionar a consulta, ressaltaram as palestrantes. Josiellyda Teixeira (Coren-RO) reforçou que a consulta de Enfermagem é um momento de escuta e permite identificar situações de violência contra mulher. “Até 2023 nós inseríamos DIU. Não fazíamos consulta de Enfermagem obstétrica e ginecológica. O que vimos, quando passamos a fazer a consulta, foi um alto índice de violência contra mulher. Muitas mulheres que passavam conosco há anos se abriram e puderam ter apoio”, relatou.

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