Jovem, negra, casada e de baixa escolaridade: as mulheres que mais sofrem violência em áreas rurais no Brasil

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Foto: Mídia Ninja

16 de dezembro, 2024 SBT News Por Murillo Otavio

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz analisou 79.229 notificações de diferentes tipos de violência, sendo agressão física a principal

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado nesta sexta-feira (13) na Revista Brasileira de Epidemiologia, revelou que jovens negras, com idades entre 18 e 39 anos, casadas e de baixa escolaridade foram as principais vítimas de violência contra a mulher em contextos rurais entre 2011 e 2020.

A violência física foi a forma mais recorrente, representando 77,6% dos casos e ocorrendo, em sua maioria, dentro da própria residência, com os companheiros como principais agressores. O levantamento analisou 79.229 notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) para mapear os casos no período.

Depois da violência física, as agressões psicológica e moral apareceram em 36,5% das ocorrências, seguidas pela violência sexual, com 6,2%. Entre as vítimas de violência física, 52,5% eram pretas e pardas, 33% brancas, 7,1% indígenas e 0,7% amarelas.

A maioria dos casos de violência física (54,7%) e psicológica (59,6%) envolveu mulheres casadas. Por outro lado, as solteiras foram as principais vítimas de violência sexual, com 48,5% dos registros. Nesse grupo, os agressores são, em sua maioria, desconhecidos (32,9%).

O estudo também apontou um aumento nas notificações entre 2011 e 2020, atribuído ao aprimoramento da vigilância epidemiológica. A partir de 2011, foi universalizado o procedimento de comunicação da violência no atendimento à vítima, incluindo serviços de saúde e assistência social.

Apesar disso, o levantamento destacou uma provável subnotificação, especialmente em casos de violência psicológica e sexual. Segundo o estudo, a dificuldade em reconhecer a violência psicológica e o medo de julgamento, culpa ou vergonha nas ocorrências de violência sexual contribuem para os registros insuficientes.

A violência física, por outro lado, é mais facilmente identificada devido às marcas deixadas no corpo e ao fato de muitas vítimas buscarem atendimento em unidades de saúde.

Os dados para enfrentar a violência

O estudo foi conduzido pelas pesquisadoras Luciane Stochero e Liana Wernersbach. Em entrevista ao SBT News, Luciane destacou a importância de estudos epidemiológicos sobre a violência nesse contexto específico.

“Uma das conclusões da pesquisa é que as mulheres negras sofrem violência dentro de suas próprias residências, sendo o companheiro o principal agressor. Vale ressaltar que a idade das vítimas corresponde, em média, à idade de mães, o que significa que toda a família acaba sendo afetada pela violência”, explica Luciane.

A pesquisadora também ressaltou fatores que tornam a situação ainda mais grave. “O isolamento geográfico, a falta de transporte público e as longas distâncias até as áreas urbanas dificultam a reação dessas mulheres. A violência urbana tem seus desafios, assim como a violência no contexto rural. Cada situação precisa ser analisada dentro de seu próprio contexto”, conclui.

Os dados apresentados no estudo podem servir de base para movimentos sociais e diferentes esferas do poder público desenvolverem políticas voltadas ao combate à violência contra a mulher, especialmente no contexto rural.

Outro ponto importante identificado na pesquisa foi o aumento das notificações de casos de violência. Segundo Luciane Stochero, esse crescimento está diretamente relacionado aos esforços mais amplos de combate à violência contra mulheres nos últimos anos.

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