Ausência de regulação das redes e o que acontece com as mulheres quando ninguém está olhando, por Maíra Liguori

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Foto: Freepik

15 de janeiro, 2025 Meio&Mensagem Por Maíra Liguori

Neste começo de 2025, assistimos a um enorme retrocesso com o anúncio de Mark Zuckerberg sobre “retomar as raízes” e a “liberdade de expressão” em suas redes sociais.

No dia 7 de janeiro, ele anunciou medidas de flexibilização da plataforma como, por exemplo, a substituição de verificadores de fatos pelas notas de comunidade.

Regulação das redes e as fake news

Essa, por si só, é uma decisão que nos obriga a fazer uma enorme reflexão sobre fake news e consequências sociais, políticas e geopolíticas que acarreta

Gostaríamos de chamar a atenção, porém, para outra conversa que está ficando de fora do radar do debate público: o anúncio de que a Meta vai abandonar políticas que restringem temas ligados a imigração e gênero (em suas palavras, “políticas usadas como forma de silenciamento – isso já foi longe demais”).

Ambiente hostil por ausência de regulação das redes

O ambiente online já é hostil, especialmente para as mulheres.

Entre os discursos de ódio na Internet, a misoginia está entre os que mais cresceram nos últimos anos, segundo o Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH) e a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da Safernet.

Assédio, ameaças, pornografia, ofensas, coaches de masculinidade e movimentos como o dos red pills escancaram o machismo, o racismo e o sexismo e trazem consequências para o dia a dia das mulheres dentro e fora das redes.

Em dezembro de 2024, o Ministério das Mulheres, em parceria com a UFRJ, analisou 137 canais com discursos misóginos (humilhação, subjugo e manipulação psicológica de mulheres) no YouTube e constatou que acumulam quase 4 bilhões de visualizações.

Teorias da conspiração

Repercutem a aversão contra as mulheres e espalham teorias da conspiração ao mesmo tempo em que monetizam seus conteúdos.

Outra investigação recente foi feita na Alemanha, onde se descobriu diversos grupos no Telegram que ensinavam a dopar, estuprar e agredir mulheres.

Foram identificados cerca de 70 mil usuários compartilhando suas estratégias, incluindo relatos de violências contra suas próprias parceiras, irmãs e mães.

Na mesma linha foi o caso de Dominique Pelicot, que dopava sua esposa e convidava homens em fóruns online para estuprá-la em sua casa.

Ainda, outro crime complexo de fiscalizar e combater é a exploração sexual infantil na internet, que atinge milhares de meninas e bateu recorde em 2023 com mais de 71 mil queixas.

Ou ainda este homem na Paraíba, que estuprou e extorquiu mais de 30 mulheres, atraídas por perfis falsos em redes sociais como Instagram e Facebook.

Abuso infantil

De volta ao Telegram, a SaferNet revelou que mais de 1 milhão de usuários já compartilhou imagens de abuso infantil.

A seleção desse ambiente para uma operação deste tamanho, por óbvio, ocorreu por não possuir moderação de conteúdo ou regras rígidas de comunidade.

Nesse contexto, derrubar a checagem de conteúdos e desresponsabilizar usuários é uma sentença a mulheres e meninas de todo o mundo.

Lembramos que as principais queixas e denúncias do gênero feminino se relacionam a exposição de imagens íntimas, ofensas, conteúdo violento e discurso de ódio (SaferNet, 2022).

Não se pode defender isso, em hipótese alguma, como liberdade de expressão.

As ameaças virtuais, que vão do estupro ao assassinato, impactam também a vida real.

Na verdade, muitas mulheres chegam a sofrer as agressões físicas e no off-line, enquanto outras passam por sequelas psicológicas graves.

Violência contra as mulheres

Um estudo do Instituto Avon mostra que 21% das mulheres que sofreram violência excluem seus perfis nas redes sociais.

Ainda, 35% passam a ter medo de sair de casa.

De fato, 30% adoecem psiquicamente, se isola ou cultiva pensamentos suicidas.

Essa violência institucionalizada reverbera ainda no imaginário coletivo que normaliza uma sociedade que tolera e até endossa a violência contra as mulheres.

Assim, o que esperar quando as poucas barreiras de segurança para reduzir o discurso de ódio e as frágeis políticas da Meta forem extintas?

Dessa forma, vale lembrar que na pandemia vivemos um período de descuido e precarização das ferramentas de proteção às mulheres.

E o que observamos foi um vertiginoso aumento do feminicídio e da violência de gênero.

Assim, no período da Covid-19, uma em cada quatro mulheres com mais de 16 anos sofreram alguma violência ou agressão em casa.

De fato, somente em São Paulo, o aumento das agressões foi de 45%.

Como mensurar o aumento da violência de gênero que vem por aí nas redes sociais quando a própria responsável por elas muda as regras do jogo e redefine ódio como liberdade?

E pior: rejeita qualquer transparência e divulga apenas os dados que lhe convém?

De fato, para outros grupos, os efeitos já começaram.

No dia seguinte ao anúncio, a Meta autorizou que os usuários façam publicações associando pessoas gays e trans a transtornos mentais e anormalidades.

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