Mariliz e a culpa imposta às mulheres: a responsabilidade de educar os homens, por Fabiane Albuquerque

26 de março, 2025 Portal Catarinas Por Fabiane Albuquerque

Em resposta ao polêmico artigo de Mariliz Pereira Jorge “O feminismo errou”, Fabiane Albuquerque desmonta a hipocrisia de culpar o feminismo pela violência masculina.

“O feminismo errou ao excluir os homens do debate que vem sendo promovido na última década”. Esta é a primeira afirmação aberrante da autora do texto publicado na Folha de São Paulo. Ora! O Feminismo não é uma entidade de assistência social, não tem um CNPJ, tampouco uma pessoa que responda por ele, pois se trata de uma postura política de mulheres no mundo, contra a dominação masculina. E, existem vários ao redor do mundo, do Congo à França, dos Estados Unidos ao Brasil, da Nigéria ao México, das mulheres negras às indígenas.

Dito isto, se alguém errou, não foi o Feminismo, este ser abstrato que não se pode tocar, mas que leva a culpa por tudo e todos, como os masculinistas que se sentem oprimidos, as Mulheristas Africanas brasileiras, que acham que lutar por igualdade de gênero é coisa de ocidental e colonizador, até a jornalista Mariliz, que nem bagagem tem para um texto menos clichê.

Mariliz está mais para uma mulher machista, do que para alguém que compreende a luta das mulheres no mundo inteiro. Na sua cabeça, o patriarcado, sistema de opressão de mulheres, o sexismo, o machismo, a misoginia, posturas incorporadas por homens socializados neste sistema, se resolvem com debates, conscientização dos homens e, claro com a inclusão por ninguém mais, ninguém menos, que as próprias mulheres.

Homens não precisam ser incluídos, a sociedade é deles, sobretudo brancos e ricos. Quanta ingenuidade ou falta de noção!

A dominação masculina, as violências físicas, psicológicas, simbólicas e materiais, não se transforma com a educação dos machos, estamos falando de poder sobre corpos de mulheres. E, não tem educação que faça um homem que tomou consciência que a violência, a objetificação, a chantagem e o controle, o beneficia, a mudar de ideia.

É como se os pobres incluíssem os ricos sobre justiça social, distribuição de renda, ou os negros aos brancos, quando lutam contra o racismo. Afinal, dominação se resolve com a inclusão dos opressores e muito debate, não é mesmo? É preciso que outros valores sejam mais fortes que o gosto pelo poder para a renúncia deste lugar que subjuga o outro.

E, quando falo em poder, homens pobres e racializados, já se sentem fora da questão. A violência de gênero é demonstração de poder, os insultos crescentes nas redes sociais, as cantadas nas ruas, as passadas de mão no corpo de mulheres no transporte público, até os inúmeros casos de feminicídio: “eu decido que você deve morrer”, são demonstrações de poder, não um problema de caráter ou de falta de educação, como tentam nos inculcar.

Aí, a “fada consciente”, que diz compreender “que haja raiva e ressentimento por séculos de opressão e desigualdade, mas não se faz revolução sozinho”, colocou nos nossos ombros outro fardo, aquele de educar o gênero masculino.

E não é verdade que não estamos fazendo. Temos filhos, pais, maridos, amigos, colegas de trabalho e, a hostilidade com que somos tratadas, todas as vezes que levantamos algum debate sobre posturas machistas, só demonstra o quão longe da realidade está Mariliz.

Beatriz Nascimento, grande nome da luta negra no Brasil, foi assassinada porque aconselhou uma amiga, vítima de violência, a deixar o companheiro. É este o nível do debate com homens que a autora desconhece ou finge desconhecer.

Rita Segato no livro Cenas de um pensamento incômodo diz que:

“a masculinidade tem, em linhas gerais, a estrutura organizacional de uma corporação, assim como são também corporações as máfias, as forças policiais, os grandes conglomerados econômicos, todas as forças militares e o Poder Judiciário. Duas características essenciais confirmam que a fraternidade masculina é uma corporação replicada em outras estruturas de poder e de prestígio: a lealdade ao grupo corporativo é o valor supremo ao qual todos os outros valores estão subordinados, e seu ordenamento interno é estritamente hierárquico e autoritário”.

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