Como educar algoritmos para promover a igualdade de gênero, por Adriana Sforcini Lavrik Esper

28 de março, 2025 Conjur Por Adriana Sforcini Lavrik Esper

O ser humano é essencialmente um contador de histórias. É razoável afirmar que sobrevivemos até hoje graças a essas narrativas que nos são transmitidas de geração a geração. A prática de contar histórias desempenha um papel crucial na educação. Contar histórias é educar.

A inteligência artificial (IA), como uma criança, necessita boas histórias com valores éticos e bom senso comum. Sem bons cuidados e supervisão, tanto crianças quanto máquinas podem desenvolver problemas comportamentais. Portanto, a IA deve ser treinada e alimentada com dados de alta qualidade e exemplos positivos, incluindo aqueles que promovam a igualdade de gênero e representem adequadamente as mulheres.

O mundo moderno, sobretudo após a pandemia, introduziu novas ferramentas para a narração de histórias. Devemos utilizar esses avanços para enriquecer o diálogo e divulgar histórias sobre grandes mulheres, com o objetivo de educar os algoritmos e abrir novos caminhos para combater o preconceito de gênero.

Impacto de IA nas mulheres

Orelatório “Os Efeitos da IA na Vida Profissional das Mulheres”, publicado em 2023 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), analisa o impacto da IA na vida profissional das mulheres.

O documento aponta que as mulheres ainda encontram dificuldades significativas no acesso à tecnologia e na obtenção de habilidades digitais. De acordo com o relatório, poucas mulheres participam de empregos relacionados à IA em todo o mundo, uma vez que, frequentemente, os sistemas de IA associam o trabalho feminino ao cuidado e assistência.

“Temos que hackear os estereótipos: a ciência não é maior que os seres humanos”, disse certa vez Cristina Aranda [1]. Nesse sentido, aproveito esta narrativa para destacar quatro mulheres com importantes atuações no campo da tecnologia:

  • Ada Lovelace, matemática e escritora inglesa, que em 1892 criou o primeiro algoritmo destinado a ser processado por uma máquina, a Máquina Analítica de Charles Babbage;
  • Mary Kenneth Keller, freira e cientista da computação norte-americana, que em 1958 participou do desenvolvimento da linguagem de programação BASIC;
  • Joy Buolamwini, cientista canadense, que em 2018 apresentou no MIT um estudo apontando a existência de viés significativo nos algoritmos de reconhecimento facial, especialmente em relação a mulheres negras;
  • Dora Kaufman, brasileira pesquisadora dos impactos éticos/sociais da IA, atualmente uma das pessoas mais influentes no Brasil sobre o assunto, reconhecida mundialmente.

Aspectos discriminatórios

A falta de transparência na funcionalidade dos sistemas de IA representa um desafio para as empresas. Nossa Lei Geral de Proteção de Dados [2] tem uma disposição especial para evitar o uso indevido de decisões tomadas unicamente com base em tratamento automatizado de dados pessoais, permitindo a Autoridade Nacional de Proteção de Dados realizar auditorias para verificar aspectos discriminatórios.

Além disso, estamos em um curso avançado para aprovar uma lei sobre o uso da IA, cujo projeto, aprovado pelo Senado em dezembro de 2024, estabelece que o desenvolvimento, a implementação e o uso de sistema de IA no Brasil deverá ter entre seus fundamentos, a não discriminação, a pluralidade e a diversidade.

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