Casos de crimes sexuais virtuais crescem 1.252% no RJ em 6 anos: mulheres são as principais vítimas

05 de agosto, 2025 g1 Por Henrique Coelho

Autoridades e especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que o aumento é proporcional ao maior uso de redes sociais e smartphones.

Um levantamento exclusivo do g1, com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), revelou que o Rio de Janeiro teve um aumento de 1.252% no número de crimes sexuais cometidos pela internet em 6 anos.

A alta se deu na comparação entre 2018, quando o registro começou a ser divulgado, e 2024, ano completo mais recente.

Em todos os indicadores, as mulheres são as vítimas mais frequentes.

Veja os principais dados abaixo:

Divulgação de cenas de estupro, estupro de vulnerável, sexo ou pornografia

  • Em 2018, foram registrados 57 casos.
  • Em 2024, esse número saltou para 771 casos.
  • O crescimento foi de 1.252%.
  • 86,6% das vítimas são mulheres.

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, publicar ou divulgar material com cena de sexo

  • Em 2020, quando números começaram a ser contabilizados, foram 27 registros.
  • Em 2024, subiram para 113.
  • Aumento de 318,5%.
  • 67,3% das vítimas são mulheres.

Registro não autorizado de intimidade sexual

  • Em 2020, início da contagem, foram 43 ocorrências.
  • Em 2024, o número chegou a 172.
  • Crescimento de 300%.
  • 87,8% das vítimas são mulheres.

Por que aumentou?

Autoridades e especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que o crescimento é proporcional ao maior uso de redes sociais e smartphones.

O aumento da conscientização sobre o tema também é um fator para que as vítimas se sintam mais à vontade para denunciar, de acordo com a presidente do ISP, Marcela Ortiz.

“Hoje em dia temos mais campanhas de conscientização sobre o tema, o que auxilia as mulheres a reconhecer quando estão sofrendo algum tipo de violência e a conhecer seus direitos e procurar ajuda”, afirmou Marcela Ortiz.

Em 2023, o Brasil registrou 4 processos por dia por registro e divulgação de imagens íntimas sem consentimento.

Companheiros são os principais autores

O g1 conversou com 2 vítimas de divulgação de cena de estupro, estupro de vulnerável, cena de sexo ou pornografia.

Ambas tiveram fotos e material íntimos vazados pelos ex-companheiros após términos de relacionamentos.

Uma delas foi abordada por homens em seu antigo emprego após ter as fotos expostas nas redes sociais.

“Foram 5 homens me procurar como prostituta no meu trabalho”, contou ela ao g1.
Outra teve as redes invadidas mesmo após conseguir uma medida protetiva contra o ex-marido, depois que ele criou os perfis falsos com fotos dela em situações íntimas.

“Eu não tenho a menor sombra de dúvidas pelo acesso que ele teve à minha intimidade.”
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, 39,9% dos autores deste tipo de crime são ex-companheiros das vítimas.

“Esse dado é importante, mas ele não é uma novidade, porque o lugar menos seguro para as mulheres sempre foi dentro de casa. Isso não se alterou no mundo digital. Continua sendo assim”, avaliou a juíza Camila Guerin, especialista em Gênero e Direito e coordenadora de projetos especiais da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça do RJ.

De acordo com a delegada Mônica Areal, da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a intenção de quem comete esse tipo de crime, de acordo com as autoridades ouvidas pelo g1, é desmoralizar e humilhar a vítima diante da família e colegas de trabalho.

“Ele (o autor do crime) vai divulgar. E para quem que ele divulga? Geralmente, para os pais da vítima, ou de causar mais efeito, mais constrangimento. É no trabalho para desmoralizá-la. Como geralmente quem grava é o homem, não aparece muito o rosto do homem, ele está filmando a vítima, a relação íntima. Então ele pouco aparece, para ele isso ou nada é a mesma coisa”, explicou.

A advogada Mayara Nicolitt, do programa Empoderadas, de prevenção e combate à violência contra a mulher do governo do estado, diz que muitos autores acreditam que não vão responder pelos crimes:

“É um crime praticado com o consentimento pelo agressor de que ele não vai ser punido. Mas é o contrário disso que a gente tem evidenciado. Tomamos as providências necessárias para que eles sejam descobertos e que sejam, sim, punidos.”
Às vezes, a família e amigos não respondem da forma como as vítimas gostariam: “Quando eu falava sobre o assunto: ‘Ah, mas o cara não te agrediu’. Infelizmente, as pessoas têm essa visão de que a única agressão que existe é a física”, comentou a vítima.

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