Autoridades e especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que o aumento é proporcional ao maior uso de redes sociais e smartphones.
Um levantamento exclusivo do g1, com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), revelou que o Rio de Janeiro teve um aumento de 1.252% no número de crimes sexuais cometidos pela internet em 6 anos.
A alta se deu na comparação entre 2018, quando o registro começou a ser divulgado, e 2024, ano completo mais recente.
Em todos os indicadores, as mulheres são as vítimas mais frequentes.
Veja os principais dados abaixo:
Divulgação de cenas de estupro, estupro de vulnerável, sexo ou pornografia
- Em 2018, foram registrados 57 casos.
- Em 2024, esse número saltou para 771 casos.
- O crescimento foi de 1.252%.
- 86,6% das vítimas são mulheres.
Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, publicar ou divulgar material com cena de sexo
- Em 2020, quando números começaram a ser contabilizados, foram 27 registros.
- Em 2024, subiram para 113.
- Aumento de 318,5%.
- 67,3% das vítimas são mulheres.
Registro não autorizado de intimidade sexual
- Em 2020, início da contagem, foram 43 ocorrências.
- Em 2024, o número chegou a 172.
- Crescimento de 300%.
- 87,8% das vítimas são mulheres.
Por que aumentou?
Autoridades e especialistas ouvidos pelo g1 avaliam que o crescimento é proporcional ao maior uso de redes sociais e smartphones.
O aumento da conscientização sobre o tema também é um fator para que as vítimas se sintam mais à vontade para denunciar, de acordo com a presidente do ISP, Marcela Ortiz.
“Hoje em dia temos mais campanhas de conscientização sobre o tema, o que auxilia as mulheres a reconhecer quando estão sofrendo algum tipo de violência e a conhecer seus direitos e procurar ajuda”, afirmou Marcela Ortiz.
Em 2023, o Brasil registrou 4 processos por dia por registro e divulgação de imagens íntimas sem consentimento.
Companheiros são os principais autores
O g1 conversou com 2 vítimas de divulgação de cena de estupro, estupro de vulnerável, cena de sexo ou pornografia.
Ambas tiveram fotos e material íntimos vazados pelos ex-companheiros após términos de relacionamentos.
Uma delas foi abordada por homens em seu antigo emprego após ter as fotos expostas nas redes sociais.
“Foram 5 homens me procurar como prostituta no meu trabalho”, contou ela ao g1.
Outra teve as redes invadidas mesmo após conseguir uma medida protetiva contra o ex-marido, depois que ele criou os perfis falsos com fotos dela em situações íntimas.
“Eu não tenho a menor sombra de dúvidas pelo acesso que ele teve à minha intimidade.”
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, 39,9% dos autores deste tipo de crime são ex-companheiros das vítimas.
“Esse dado é importante, mas ele não é uma novidade, porque o lugar menos seguro para as mulheres sempre foi dentro de casa. Isso não se alterou no mundo digital. Continua sendo assim”, avaliou a juíza Camila Guerin, especialista em Gênero e Direito e coordenadora de projetos especiais da Coordenadoria da Mulher do Tribunal de Justiça do RJ.
De acordo com a delegada Mônica Areal, da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a intenção de quem comete esse tipo de crime, de acordo com as autoridades ouvidas pelo g1, é desmoralizar e humilhar a vítima diante da família e colegas de trabalho.
“Ele (o autor do crime) vai divulgar. E para quem que ele divulga? Geralmente, para os pais da vítima, ou de causar mais efeito, mais constrangimento. É no trabalho para desmoralizá-la. Como geralmente quem grava é o homem, não aparece muito o rosto do homem, ele está filmando a vítima, a relação íntima. Então ele pouco aparece, para ele isso ou nada é a mesma coisa”, explicou.
A advogada Mayara Nicolitt, do programa Empoderadas, de prevenção e combate à violência contra a mulher do governo do estado, diz que muitos autores acreditam que não vão responder pelos crimes:
“É um crime praticado com o consentimento pelo agressor de que ele não vai ser punido. Mas é o contrário disso que a gente tem evidenciado. Tomamos as providências necessárias para que eles sejam descobertos e que sejam, sim, punidos.”
Às vezes, a família e amigos não respondem da forma como as vítimas gostariam: “Quando eu falava sobre o assunto: ‘Ah, mas o cara não te agrediu’. Infelizmente, as pessoas têm essa visão de que a única agressão que existe é a física”, comentou a vítima.