O sofrimento feminino ainda é minimizado pela medicina e pela sociedade e é urgente mudar essa realidade.
Todo mundo já ouviu alguma mulher dizendo que sente dor há anos, mas ninguém leva a sério. Que passou por médicos e mais médicos até conseguir um diagnóstico – se é que conseguiu. Pois é. Quando o assunto é a saúde da mulher, existe um padrão silencioso e cruel: a dor feminina é constantemente ignorada, minimizada ou desacreditada.
Não é exagero. É estatística!
As mulheres sofrem mais com dores crônicas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Doenças como enxaqueca, fibromialgia, endometriose e até algumas condições autoimunes são mais frequentes nelas. Mesmo assim, os relatos femininos costumam ser tratados com desconfiança. A mulher está “sensível”, “estressada”, “emocional”, diz a sociedade e até mesmo profissionais de saúde.
Um exemplo? Endometriose. Afeta mais de sete milhões de brasileiras e pode causar dores incapacitantes. Mesmo assim, o tempo médio para diagnóstico no país varia de sete a dez anos. Durante todo esse tempo, muitas ouvem que estão exagerando ou que sentir dor durante a menstruação “é normal”. Não, não é!
E não para por aí… Pesquisas mostram que, em emergências médicas, mulheres que relatam dor intensa recebem menos analgésicos do que homens na mesma situação, e nem vou fazer aqui o recorte racial. Em muitos casos, em vez de receberem tratamento, recebem um olhar de julgamento. Isso é grave. É uma questão de saúde pública e de justiça.
Também vale lembrar: durante muito tempo, os estudos clínicos usaram majoritariamente homens como base. Ou seja, muitos medicamentos que as mulheres tomam hoje foram testados em corpos que não são como os delas. Resultado? Efeitos colaterais maiores, respostas menos eficazes, diagnósticos imprecisos.
Então, o que a gente faz com tudo isso? Fingir que não existe, não dá mais. A mudança precisa ser coletiva e estruturada. Penso em alguns caminhos possíveis:
Educação com perspectiva de gênero: Os cursos da área da saúde precisam formar profissionais preparados para ouvir e respeitar a dor das mulheres. A dor não é histeria, não é fraqueza, não é “frescura”.
Mais mulheres nos estudos clínicos: É urgente que a ciência considere as especificidades hormonais, fisiológicas e sociais do corpo feminino. Isso salva vidas.
Escuta ativa nos atendimentos: Em vez de duvidar, o profissional precisa acolher. A dor é subjetiva, mas é real. E só quem sente sabe.
Campanhas de informação: Muita mulher nem sabe que aquela dor que ela carrega faz parte de uma doença, que existe tratamento, que ela não está sozinha.
Mais investimento em serviços especializados: O SUS e os sistemas privados precisam oferecer estruturas específicas para lidar com dores crônicas, saúde menstrual, sexual e reprodutiva.