Relatório Isabel transforma história de perda em 24 recomendações urgentes para que Estado e instituições de saúde garantam proteção a recém-nascidos e crianças no Brasil.
Isabel viveu apenas um ano e treze dias. Não foi somente o tempo que lhe faltou, foi o cuidado. A história dessa bebê brasileira não é apenas pessoal: ela traz à luz como cuidados inseguros no sistema de saúde culminam em milhares de mortes de recém-nascidos e crianças no país.
O Relatório Isabel, lançado dia 16 de setembro, véspera do Dia Mundial da Segurança do Paciente (17), nasce do luto transformado em ação. Além de um documento técnico, é uma homenagem à Isabel e um alerta para que se possa aprender com as falhas e promover a importância da comunicação, da empatia clínica e do direito e da segurança do paciente.
O lançamento ocorreu no canal do YouTube do Instituto Brasileiro de Direito do Paciente (IBDPAC), às 20h, e o relatório pode ser acessado pelo público, gratuitamente, nos sites do IBDPAC e da associação Dando Voz ao Coração, que produziram o documento.
Todos os anos, mais de 20 mil crianças com menos de um ano morrem no Brasil por causas evitáveis, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
A palavra “evitável” dói. Dói porque revela que não se trata de destino, mas de protocolos não atendidos, de comunicação falha e de desigualdades que atravessam a sala de parto e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal. Cada uma dessas mortes representa não apenas um vazio para as famílias, mas uma violação de direitos humanos básicos: o direito à vida, à saúde, à informação e à dignidade.
Roberta Lopes Guizzo, mãe de Isabel, enfrentou complicações decorrentes da falta de cuidado e de protocolos médicos que deveriam ter garantido a segurança de sua filha, da gestação até o parto. A consequência foi devastadora: Isabel sobreviveu apenas um ano e treze dias, tornando-se símbolo de uma luta que hoje se transforma em mobilização coletiva por mudanças estruturais no sistema de saúde.
O Relatório Isabel mergulha nesses pontos críticos e apresenta 24 recomendações urgentes para o Estado e instituições de saúde. Entre elas, a presença 24 horas de equipes capacitadas, protocolos baseados em evidências, apoio emocional e pedagógico às famílias, além da garantia de uma linguagem acessível que respeite o direito à informação. Em comum, todas essas propostas carregam um princípio fundamental: o bebê é um paciente, com direitos, e, portanto, merece cuidado seguro desde o primeiro instante de vida.
A história de Isabel já inspirou mudanças concretas. Em 2025, foi aprovada no Paraná a Lei Isabel (Lei 22341/2025), que garante prioridade no atendimento a gestantes de alto risco. Nacionalmente, o relatório reforça a urgência de aprovação do Estatuto dos Direitos do Paciente (PL 2242/22), em tramitação no Senado. O projeto, no entanto, está parado — e cada dia de inércia custa vidas que poderiam ser salvas. É preciso dar mais celeridade a esse debate. O reconhecimento legal do paciente como sujeito de direitos pode redefinir a forma como pensamos o cuidado em saúde no Brasil.