Infectologista diz que foco das pesquisas e campanhas em homens explica baixa adesão feminina ao medicamento preventivo
Mulheres representam quase 30% dos novos casos de HIV no Brasil, mas são apenas 8,8% dos usuários da profilaxia pré-exposição (PrEP), medicamento antirretroviral que previne a infecção pelo vírus, segundo dados do Ministério da Saúde de 2024. No total, o país tinha 110.733 pessoas em PrEP no ano passado, sendo 6.649 mulheres cis e 3.109 mulheres trans.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o infectologista Gerson Salvador explica que essa discrepância tem raízes na forma como a prevenção foi pensada no país.
“A maior parte dos estudos sobre profilaxia pré-exposição foi feita em homens que fazem sexo com outros homens. Houve determinadas populações chaves em que a epidemia tinha um descontrole maior e que foram priorizadas, inclusive, em campanhas públicas”, afirma. Ele acrescenta que o acesso à PrEP é maior entre pessoas mais escolarizadas e que vivem em grandes centros urbanos, o que também contribui para a exclusão de muitas mulheres em situação de vulnerabilidade.
Ainda segundo os dados do ministério, 71% dos usuários de PrEP em 2024 tinham 12 anos ou mais de estudo, enquanto apenas 1,4% tinham até três anos de escolaridade. Regionalmente, o Sudeste reúne 58% do total de usuários, sendo só o estado de São Paulo responsável por 42 mil pessoas em uso.
Segundo ele, é fundamental ampliar a difusão dessa informação ao grupo feminino, inclusive por meio de campanhas entre pares. “É preciso ampliar essa divulgação voltada para as mulheres. Precisamos multiplicar essa mensagem. Falar que existe a PrEP pode te beneficiar e reduzir o risco de infecção pelo HIV”, pontua.