O estudo “Quem são as mulheres que o Brasil não protege?”, apresentado na Câmara dos Deputados, indica que 68% das vítimas de feminicídio são negras
Um estudo da Fundação Friedrich Ebert apresentado na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (26), indica que mais da metade das mulheres mortas em função do gênero em 2024 eram negras.
Lançado dez anos após a promulgação da Lei do Feminicídio (nº 13.104/2015), o levantamento “Quem são as mulheres que o Brasil não protege?” utiliza dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O trabalho integra a campanha “21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres” da Câmara.
De acordo com a publicação, os casos de feminicídio passaram de 527 casos no primeiro ano da legislação para 1.455 no último ano, o que representa um crescimento de 176% em uma década. Do total de vítimas, 68% eram negras.
Em relação a 2023, houve um aumento de 0,7% nos feminicídios, de 19% nas vítimas de tentativa de feminicídio, de 6,3% nos casos de violência psicológica e 18,02% nos casos de stalking, ato de perseguir alguém de forma violenta e obsessiva.
A pesquisa aponta que, enquanto o feminicídio de mulheres brancas apresentou um leve recuo, esse tipo de violência aumentou entre as pardas e as pretas. Para a especialista em gênero da fundação Jackeline Ferreira Romio, os números demonstram a necessidade de considerar raça e classe na formulação de políticas públicas de combate ao feminicídio.
“Existem populações que estão muito vulnerabilizadas e sofrem de violências múltiplas, e isso impacta em eventos extremos, como a mortalidade por feminicídio. Para que essa política chegue às mulheres negras, ela precisa ser interseccional, considerar a relação entre o racismo e a violência de gênero”, declarou, em nota da Câmara.