(Blog Roldão Arruda) De acordo com levantamento realizado pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, neste ano foram eleitas 7.648 mulheres para as câmaras municipais de todo o País e outras 663 para as prefeituras. Na comparação com a eleição anterior, em 2008, isso representou um avanço. No caso das câmaras, elas passaram de 12,5% para 13,3% do total de cadeiras disponíveis. Nas prefeituras, a variação foi de 9,1% para11,8%.
Se a comparação for feita, porém, com a presença das mulheres no conjunto da população e com outros níveis de atividades, a variação foi medíocre. Qual a razão disso? Na entrevista abaixo, Alves, que é professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, no Rio, afirma que os resultados refletem sobretudo a resistência dos caciques partidários à presença de mulheres na política. “O funil está nos partidos”, afirma.
Seu levantamento aponta um aumento da participação das mulheres. Dá para comemorar?
É um avanço. Mas ainda está muito aquém do se esperava, especialmente quando se considera que elas são a maioria da população e do eleitorado, conquistam cada vez mais espaço no mercado de trabalho, já ultrapassaram os homens em todos os níveis de educação e possuem uma esperança de vida mais elevada. Até nas Olimpíadas elas se destacam mais. Em Londres e Pequim conquistaram duas três medalhas do Brasil. Pode-se lembrar também que temos uma mulher na Presidência da República e que foi uma mulher, à frente do Tribunal Superior Eleitoral, que comandou o processo eleitoral deste ano.
Como é a situação em outros países?
Desde as recomendações da Conferência Internacional de Mulheres, em Pequim, em 1995, diferentes países começaram a estimular a presença de mulheres na política, especialmente por meio de cotas. Ocorreram avanços na maior parte deles. A média mundial de mulheres de mulheres em cargos em câmaras federais hoje é de 23%. Na Argentina, em Cuba e nos países nórdicos chega a 40%. No Brasil, ainda é de 8,6%. É a pior situação da América do Sul.
A que atribui esses resultados?
Quando passou a vigorar a política de cotas para mulheres nas eleições, os partidos entenderam que bastava reservar para elas um número de vagas entre os candidatos, sem a obrigação de preenchê-las. Mais tarde, quando mudou a interpretação da lei, por imposição do TSE, eles passaram a lançar mulheres laranjas, donas de casa, secretárias e mães dos dirigentes partidários, muitas delas sem condições de competir, que estão ali só para preencher a cota obrigatória.
Como explica isso? Ao preconceito do eleitorado? À ideia de que mulher não vota em mulher?
O eleitorado não discrimina as mulheres. O exemplo mais claro disso apareceu nas eleições presidenciais de 2010, quando concorreram nove candidatos, dos quais sete eram homens. Ao final do primeiro turno, as duas mulheres conquistaram 67% do total dos votos. Ora, se os brasileiros são capazes de confiar a Presidência da Reopublica a uma mulher, porque não votariam nelas para cargos em prefeituras e câmaras municipais?
Qual seria então a razão dessa baixa representação?
O problema está no controle dos partidos. São os homens que controlam os principais cargos, os recursos partidários e o processo de escolha de candidatos. O funil está na máquina partidária. Não existe nenhum partido no Brasil presidido por mulher. A Marina Silva, depois de obter quase vinte milhões de votos na eleição presidencial, foi praticamente forçada a se retirar do PV.
E o caso da presidente Dilma Rousseff?
Ela só conseguiu ir adiante porque o Lula apoiou. Se fosse contar apenas com a estrutura do PT não teria saído como candidata. Foi um caso excepcional, que deixou o Brasil à frente dos Estados Unidos e França. Esses dois países, apesar de sua longa e importante tradição democrática, nunca elegeram uma mulher para o cargo de presidente.
Acesse em pdf: Caciques políticos discriminam mulheres nas eleições (Blog ROldão Arruda – 09/10/2012)