Publicado no domingo (19/05), texto registra debate liderado pela SPM na América Latina sobre acesso feminino às novas tecnologias de informação e comunicação
(SPM) Alguns efeitos das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) vêm provocando aumento simultâneo de esperança e de preocupação. Pela sua característica de recriação radical do mundo contemporâneo, as TICs, de um lado, são cada vez mais percebidas como fontes de transformações sociais, econômicas e políticas que sinalizam inequívoca arrancada para o desenvolvimento – inclusive para as mulheres.
De outro lado, está claro que as oportunidades geradas por essas tecnologias no mundo do trabalho não têm automaticamente garantida a democratização de acesso. Por isso, as TICs precisam ser acompanhadas de políticas afirmativas para segmentos discriminados da população. Como as mulheres.
É nesse contexto que temos duas informações alentadoras. A primeira: a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, a Pnad/IBGE 2011, aponta que as mulheres na faixa dos 25 aos 49 anos igualam-se ou superam os homens no uso da internet. Nas demais faixas etárias dessa Pnad, elas e eles praticamente se igualam. (A pesquisa abrangeu usuários de internet em desktops e laptops, excluindo acessos móveis, por tevê e outros.) Como se sabe, a internet é uma ferramenta-ambiente tida como um dos principais, se não o principal componente das TICs, por força de sua característica aglutinante, graças à qual as outras tecnologias a orbitam.
A segunda informação nos reporta que as brasileiras, além de serem maioria nos cursos superiores presenciais no país, com 55,23% (Mec/Inep 2011), o são com margem ainda maior na graduação a distância, o e-learning: representam 66,77% do total, ante 33,23% dos homens.
A se notar que o e-learning atesta a disposição intelectual de quem nele se aplica: a mediação tecnológica exige da (ou do) estudante que efetivamente converta informação em conhecimento. Já se sabe que essa interação tecnologicamente mediada demanda um empenho de elaboração para além do esforço dos cursos presenciais. Ou seja, a estudante a distância, talvez mais do que outros, abandona de vez a passividade do presencial clássico para se converter definitivamente em agente de criação de conhecimento.
Esse cenário de possibilidades de avanço para as mulheres reforça-se com a postulação de Paul Pierre Levy: “A maior parte dos programas computacionais desempenha um papel de tecnologia intelectual, ou seja, eles reorganizam, de uma forma ou de outra, a visão de mundo de seus usuários e modifica seus reflexos mentais”.
Ver como esse contexto se aplica no mundo do trabalho, com suas enormes disparidades de acesso ou de mobilidade quando se trata das mulheres, é o que suscita esperanças e interrogações. Sabe-se que as mulheres têm sua inserção ou ascensão no mercado de trabalho dificultada pela dupla jornada, que inclui desde a responsabilidade pelas tarefas domésticas desigualmente repartidas, até o cuidado com as pessoas da família.
É aqui que as mulheres empreendedoras das pequenas e médias empresas – importantíssimas para a economia dos países em geral – podem apostar no uso das TICs. Desde que, como dito, essas se façam acompanhar de algumas condicionantes.
As dificuldades de locomoção, a superposição de compromissos causada pela obrigação de buscar filhos na escola e outras agendas familiares, a escassez de recursos, tudo isso pode ser atenuado pelas TICs. Essas proporcionam a criação de pequenos negócios virtuais, a sua viabilização logística por meio da facilidade da busca on-line de fornecedores e de clientes, a obtenção de informações e cursos rápidos de negócios e até mesmo sua propaganda básica via o boca a boca da viralização nas redes sociais.
Uma loja on-line, pela simplicidade e baixo custo que hoje representa a sua montagem, economiza enormemente em recursos que seriam gastos em aluguel, pessoal e outros itens de custeio.
Entretanto, tudo isso somente estará ao alcance da mulher que houver obtido a informação primal, aquela que a despertará do acanhado universo doméstico em direção à sua transformação – para o que são fundamentais a educação e a qualificação profissional. É por isso que o governo brasileiro reforça tanto os cursos profissionalizantes do Pronatec. Em outra esfera, programas como o Ciência Sem Fronteiras estimulam universitárias à pós-graduação, numa ação exitosa do governo federal.
É esse composto de possibilidades e interrogações que o governo brasileiro, por meio da Secretaria de Políticas para as mulheres (SPM), discutirá na XII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe, em outubro, em Santo Domingo. A discussão é particularmente valiosa para o Brasil e para a SPM, porque temos boas notícias a apresentar -, mas elas são apenas o início do muito que queremos fazer.
Acesse em pdf: Em artigo no jornal Correio Braziliense, ministra Eleonora aborda inclusão digital das mulheres (SPM – 20/05/2013)