(Valor Econômico) A julgar pela disposição dos manifestantes, as ruas do Rio de Janeiro não serão tomadas apenas por jovens católicos na visita do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), entre 23 e 28 de julho. Paralelamente ao evento religioso que deve atrair ao menos 300 mil pessoas à cidade, uma agenda de protestos está sendo marcada. Na pauta, a crítica à postura conservadora da Igreja em temas como a condição feminina e a homossexualidade soma-se à agenda usual das manifestações que perduram na cidade desde o mês passado e congregam opositores do governador Sérgio Cabral (PMDB) que demandam maior participação política e transparência na gestão pública.
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Ao menos quatro manifestações já foram agendadas pelo Facebook durante a Jornada. A primeira delas na porta do Palácio Guanabara, sede do Executivo estadual, na noite de segunda-feira, 22, quando o pontífice é esperado para uma recepção de gala. Entre os convidados estão a presidente Dilma Rousseff e o governador. Intitulada “Papafolia – rumo aos 5 mil manifestantes”, a página do ato já tem 1,6 mil confirmações. Na pauta estão os gastos com a festa, estimados pelos manifestantes em R$ 1 milhão, além da oportunidade de confrontar figuras políticas do cacife de José Sarney (PMDB) que, acreditam, estará presente.
O “Beijaço LGBT”, marcado para terça-feira, 23, tem mais de 1,3 mil presenças confirmadas contra a “crescente homofobia e fundamentalismo religioso no Brasil durante o discurso do papa na JMJ”. No dia 26, um protesto contra a corrupção intitulado “Grande Ato: Papa, veja como somos tratados” está marcado em Copacabana. No dia seguinte, a “Marcha das Vadias”, iniciativa feminista, promete dimensões ainda maiores. Agendada também para a praia de Copacabana, tem 2,5 mil confirmações.
Na noite de ontem, o Fórum de Lutas contra o Aumento da Passagem, movimento que organizou algumas das maiores manifestações na cidade, tinha em sua pauta definir a agenda de protestos para a próxima semana. Contudo, até o fechamento dessa edição, a plenária ainda discutia sobre o próximo ato. Até o início da noite de ontem, a plenária reunia cerca de 500 pessoas no Instituto Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ.
Mesmo após a redução das tarifas de transporte público, os protestos no Rio não arrefeceram. O principal alvo dos atos é o governador Cabral, criticado pelos manifestantes por decisões autoritárias como a privatização do Maracanã e pela truculência da polícia na repressão aos atos.
Desde quinta-feira, três manifestações contra o governador ocorreram na porta do Palácio Laranjeiras. Hoje, mais um protesto está marcado em favor do impeachment de Cabral em frente à sua casa, no Leblon.
Para a Secretaria de Segurança, o evento é “a mais complexa operação policial da história do Rio”. Sete mil policiais civis e militares reforçarão o contingente – não informado – que atua na região metropolitana.
Ontem a prefeitura negou preocupação. Aliado de Cabral, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) lamentou, porém, que protestos possam atrapalhar a visita. O papa “não é a pessoa mais adequada para ouvir essas manifestações”, disse o prefeito.
“As pessoas têm todo o direito de se manifestar”, afirmou Paes. “Mas não sei se o papa Francisco tem culpa nos 20 centavos. Não sei se o papa Francisco tem culpa na eventual corrupção da política brasileira. Não sei se o papa Francisco tem culpa de os deputados trabalharem tantos dias ou não trabalharem”, disse.
Acesse o PDF: Jornada atrai de manifestantes LGBT aos anti-Cabral (Valor Econômico – 17/07/2013)