(O Globo) Neuma Aguiar – Uma das maiores especialistas em uso do tempo no Brasil, socióloga da UFMG afirma que deve crescer a pressão por creches e escolas em tempo integral.
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O brasileiro gasta cerca de duas horas e meia em frente à televisão. A senhora acha que é muito tempo?
Eu acho muito. Na pesquisa que fiz (em 2001 em Belo Horizonte) os homens gastavam mais tempo na frente da televisão do que as mulheres, o que nos surpreendeu.
Quais as mudanças que houve no uso do tempo no Brasil nas últimas décadas?
Apesar de não serem pesquisas comparáveis (a feita por Amaury de Souza em 1973 no Rio, a dela em Belo Horizonte e a do IBGE), é possível notar uma redução nos afazeres domésticos. A entrada da mulher no mercado de trabalho e as próprias características das famílias, que ficaram menores, com menos filhos, causaram esta mudança, o que fez reduzir o trabalho doméstico em quatro horas, mas a diferença de gênero no tempo gasto nestas atividades se manteve.
E o lazer?
Também diminuiu. E o que chama a atenção é a forma desse lazer. Os homens gastam um tempo contínuo, as mulheres têm os momentos de lazer picadinho, entre outras atividades.
O aumento do custo com empregada Doméstica, com a regulamentação deste trabalho e a redução da oferta dessas profissionais, pode reduzir a desigualdade de gênero nos afazeres doméstico?
Acredito que haverá uma demanda maior para questões imediatas, como o aumento no número de creches, a jornada da própria creche e escolas em tempo integral. Isso diminui o encargo das mulheres. Na Austrália, há programa para subsidiar refeições baratas para diminuir a carga de trabalho. Ainda estamos longe, mas temos que caminhar para isso.
A pesquisa do IBGE mostrou que o cuidado dos filhos ainda é muito da mulher?
É verdade. Mas acredito que, nas novas gerações, isso mude. (Cássia Almeida)
Acesse o PDF: ´As mulheres têm os momentos de lazer picadinho´ (O Globo, 09/08/2013)