19/08/2013 – Mortes maternas preocupam no Distrito Federal

19 de agosto, 2013

(Correio Braziliense) No ano passado, 18 grávidas perderam a vida durante a gestação, o parto ou 42 dias após saírem do hospital. O número se manteve estável, mas, segundo especialistas, deveria ter caído, já que nasceram menos bebês em 2012.

Pedro Alan Rodrigues não chegou a sentir o gosto do leite materno nem o calor do colo da mãe. Viviane de Sousa Rodrigues tinha 26 anos quando teve o garoto, em junho. Durante o parto, a equipe médica do Hospital Regional de Brazlândia (HRBraz) constatou que havia algo de errado na pressão arterial da gestante: a jovem estava com pré-eclâmpsia. O menino nasceu saudável, mas Viviane morreu oito dias depois de internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Base (HBDF).

Em 2012, o DF registrou 43,2 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos vivos. Os dados são do mais recente boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES-DF). O relatório também revela que a Razão de mortalidade materna (RMM) do DF é pouco mais do dobro da aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para a entidade internacional, o admissível é que essa estatística varie entre 10 e 20 casos para cada 100 mil.

O estudo do comitê que analisa os casos ocorridos nas redes pública e privada do DF mostra que 18 mulheres perderam a vida durante a gestação, o parto ou até 42 dias após dar à luz os filhos, no ano passado. Complicações, como hipertensão arterial gerada na gravidez e hemorragia, seguem no topo do ran-king como dois dos principais motivos que tiraram a vida dessas mulheres em idade fértil.

Conforme as estatísticas, em 2012, a maioria das grávidas estava com idades entre 30 e 39 anos. A escolaridade também foi classificada. Sete das 18 gestantes tinham entre oito e 11 anos de estudo. Boa parte delas havia recebido atendimento médico durante o pré-natal em postos de saúde de Ceilândia. Do total, 14,8% dos casos de mortes foram registrados no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Na sequência, estão os hospitais regionais das asas Sul (HRAS) e Norte (Hran).

Para Avelar de Holanda Barbosa, integrante do grupo do DF responsável por estudar a vida dessas mulheres, os resultados mostram que houve estabilização dos números. No entanto, ele admite que deveria “ter havido uma melhora” em relação à quantidade de mortes. “Nasceram menos bebês em Brasília em 2012. Por isso, esses últimos dados apontam que não houve aumento dos casos”, destaca. No ano passado, 40 mil crianças nasceram no DF. Enquanto que, em 2011, foram 43 mil. O especialista defende que o atendimento precisa de mudanças radicais desde a atenção primária (postos de saúde) até a terciária (hospitais de referência, como o de Base e o Materno Infantil de Brasília).

Sob investigação

O marido de Michele da Silva Pereira, 18 anos, ainda se recupera da morte da companheira, enquanto tenta cuidar sozinho da filha do casal. A balconista faleceu 10 dias após ela dar à luz a Ana Luiza. Matheus Pereira, 18, acredita que houve erro médico durante o parto da mulher. O procedimento ocorreu no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em 1º de março deste ano. Segundo o garçom, a cesárea não teve complicações. A garota, hoje com quatro meses de vida, precisou dos mínimos cuidados médicos. Mãe e filha tiveram alta da unidade de saúde três dias após a operação, embora Michele tenha voltado para casa se queixando de dores abdominais.

Onze dias após o parto, a balconista faleceu no Hospital Regional da Ceilândia (HRC) durante uma cirurgia feita às pressas. No procedimento, os médicos encontraram duas compressas no abdome da paciente. “Quero punição”, cobra Matheus. O caso de Michele é investigado pela Promotoria de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida) e pela 5ª DP (área central).

Por meio de nota, a Secretaria de Saúde do DF informou que um “processo administrativo disciplinar foi aberto em 23 de junho e está em fase de análise. A previsão para término desta avaliação é de 120 dias”. Sobre o outro caso, a pasta afirmou que Viviane de Sousa recebeu todo o atendimento necessário nos dois hospitais em que foi atendida. “A paciente deu à luz e, durante o procedimento anestésico, foi observado aspecto sanguíneo do líquido cefalorraquidiano. Durante o ato cirúrgico, a paciente apresentou episódio convulsivo.”

Meta

Uma das metas para o Brasil é que, até 2015, o país consiga reduzir a RMM para igual ou inferior a 35 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos.

Acesse o PDF: Mortes maternas preocupam (Correio Braziliense, 19/08/2013)

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