18/09/2013 – Jovem casal lésbico promete processar deputado do PSC por homofobia

18 de setembro, 2013

(iG) Por ordem do deputado federal e pastor, Yunka Mihura, 20, e Joana Palhares, 18, foram presas por se beijar. Estudantes falam ao iGay e prometem processar político evangélico.

Há cerca de um ano, o casal Yunka Mihura, 20, e Joana Palhares , 18, deu o seu primeiro beijo na Rua da Praia, na cidade de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, durante um show da banda Charlie Brown Jr. O gesto de carinho foi aplaudido pelos amigos das duas jovens, que torciam para que elas ficassem juntas.

Um ano depois, no último domingo (15), o mesmo gesto fez com que elas fossem levadas a uma delegacia. Desta vez, o beijo do casal foi um protesto contra o controverso deputado federal e pastor evangélico Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias do Congresso Nacional (CDHM), que comandava o evento 5º Glorifica Litoral, na mesma Rua da Praia.

Yunka e Joana faziam parte de um grupo de 20 pessoas que prostestavam contra Feliciano, que chegou a propor um projeto de ‘tratamento’ da homossexualidade, a tal da ‘cura gay’. Ele disistiu da ideia depois da repercussão negativa que a iniciativa provocou.

O casal afirma que o prostesto estava sendo recebido de forma pacífica até a chegada do pastor e deputado. “Ele (Feliciano) subiu ao palco olhando para a gente, alguém deve ter avisado. Já tínhamos nos beijado várias vezes e ninguém falou nada. Olhavam, mas não falavam nada. Foi só quando o Feliciano falou que deveríamos ser presas que começaram a vaiar. Ele incitou a violência”, acusa Yunka.

Segundo o casal, a pedido de Feliciano, soldados da Guarda Civil Metropolitana se aproximaram do casal propondo um cordão de isolamento, que logo descambou para uma sessão de espancamento. “O comandante e outros policiais jogaram a gente embaixo do palco e começaram a bater na Joana, tapas na cara, eu comecei a gritar muito e logo depois me tiraram”, relata Yunka.

“Eram três policiais me segurando, mas eu peso 50 quilos. Por que precisaria de três policiais?”, questiona Joana. Ambas garantem que em nenhum momento atrapalharam o evento. Elas dizem ainda que casais heterossexuais se beijavam e consumiam bebidas alcoólicas, sem ser incomodados.

“A gente sempre teve muita indignação em relação ao Feliciano. Estávamos lá contra o deputado e não contra o pastor e sua religião. A gente quer que ele saia do cargo, fomos para demonstrar nossa indignação. Um deputado de uma Comissão de Direitos Humanos nunca incitaria a violência ou mesmo pediria que homossexuais fossem presos por estarem se beijando”, desabafa Yunka.

Depois da confusão, o casal foi encaminhado para o 1º Distrito Policial de São Sebastião. Lá, elas foram ouvidas e fizeram um boletim de ocorrência denunciando a agressão dos guardas municipais. Elas pretendem processar a prefeitura e o próprio deputado Feliciano.

“O evento era público, pago com o nossos impostos. Aquele palco, aquele microfone, tudo tinha dinheiro público. Também era um espaço aberto, na Rua da praia. Estar ali era direito nosso”, argumenta Yunka.

Vídeo mostra Marco Feliciano mandando prender casal lésbico:

 

 

Em nota, a Prefeitura de São Sebastião declarou que os homens da Guarda Municipal atuaram no intuíto de evitar que as duas jovens fossem agredidas pela multidão que as cercava.

Em seu Twitter, o deputado Feliciano se defendeu dizendo que estava agindo legalmente ao ordenar que o casal fosse preso. “Toda vez que indivíduos adentram o local de culto, seja onde for, e atentam sem pudor contra nossos princípios, ferem nossos direitos”, escreveu ele na rede social.

Presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, a advogada Adriana Galvão discorda do argumento do deputado, dizendo que a prisão não teve base legal e foi arbitrária.

“As meninas estavam exercendo seu direito de ir e vir. Foi um ato que demonstrou uma motivação discriminadora. Pedir que a força policial retire alguém de um evento público é um absurdo, não era um culto fechado”, rebate Galvão.

Adriana ainda informa que Yunka e Joana podem entrar com um processo administrativo contra Feliciano, baseado na Lei 10948/01, que pune indivíduos, estabelecimentos e órgãos públicos por homofobia.

“O processo é sempre em relação a quem cometeu o ato de homofobia, no caso, Feliciano, e, eventualmente, as autoridades envolvidas que cumpriram ordens arbitrárias”, aponta a advogada.

Acesse o PDF: O jovem casal lésbico que provocou a ira de Marco Feliciano com um beijo (iG, 18/09/2013)

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