(DCI) O preconceito é uma questão cultural ainda muito arraigada no passado, ainda prejudica muito a ascensão das mulheres em postos de gestão nas empresas. Quando isso ocorre, as mulheres que desempenham a mesma função executiva de pessoas do sexo masculino recebem salários menores e são testadas e cobradas a todo instante. A proporção de mulheres em cargos executivos de companhias instaladas no Brasil é de apenas de 8%. Apesar da sensação de avanço nos últimos anos, ocasionado principalmente pelo sucesso de algumas mulheres em cargos de alto escalão, nos últimos 15 anos esse percentual praticamente não mudou. Essas estatísticas fazem parte de um estudo elaborado pelo Grupo de Pesquisas de Direito e Gênero da Escola de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas), em São Paulo.
Segundo o estudo, de 1997 a 2012, aproximadamente 48% das companhias brasileiras não apresentaram ao menos uma mulher em seu conselho de administração e 66,5% não tinham sequer uma mulher na diretoria executiva. A pesquisa foi realizada a partir da análise de mais de 73 mil cargos de 837 diferentes empresas de capital aberto no país.
A especialista em desenvolvimento organizacional da IBE-FGV, Rita Ritz, disse que no caso do Brasil e de outros países da América Latina, isso ocorre também por uma questão cultural. Segundo ela, nos países escandinavos, por exemplo, a situação é totalmente diferente. “O número de mulheres em postos de gestão é igual ou superior ao de homens dependendo do seguimento. O mesmo ocorre com relação aos salários”, comenta
Rita Ritz disse ainda que no Brasil quando as mulheres galgam cargos de gestão, 80% delas ganham menos que um gestor o mesmo nível, fazendo a mesma coisa, com a mesma autonomia e com a mesma responsabilidade. “A gente dividiu o ônus da modernidade que é dividir a conta, pagar pelas mesmas coisas que os homens pela subsistência, mas a gente não dividiu o bônus. O modelo padrão ainda é o homem chegar em casa e tomar cerveja. A mulher no mercado de trabalho está galgando postos de gestão, mas continua sendo responsável pelos filhos e pela casa”, pontua.
O preconceito ainda desponta como um dos principais motivos pela fraca presença feminina nas diretorias das empresas, seguido da falta de estrutura institucional oferecida pela empresa como creches, babás, maior licença maternidade, entre outros. As companhias têm falhado na hora de dar condições para que as mulheres consigam administrar a vida profissional e, simultaneamente, a pessoal. Esse panorama se agrava quando o assunto é a união entre carreira, filhos e família.
De acordo com Rita Ritz, as mulheres que ocupam cargos executivos são testadas a todo momento. “A mulher não se acomoda e busca a inovação porque ela tem que ficar provando o tempo todo que ela é tão boa quanto o homem no cargo de gestão e qualquer bobagem que aconteça vem aquele comentário ‘Não falei. É mulher’. Isso não acontece com os homens. Com eles a tolerância é muito mais elástica e a gente vê homens em cargos de gestão fazendo uma burrada atrás da outra”, diz.
Para Rita, o estudo revela uma difícil realidade vivida pelas mulheres no mercado de trabalho, pois, além de terem que enfrentar barreiras do mundo corporativo, elas ainda precisam vencer, na maioria dos casos, a falta de apoio da família e do parceiro na missão de conciliar a vida pessoal com a profissional.
“É uma conjuntura que não favorece o exercício dos dois papéis. Cada vez mais estas mulheres não contam com a retaguarda da família para ajudar no cuidado com os filhos e também não contam com estrutura adequada oferecida pelo Estado, como creches e escolas”, conclui Rita.
Acesse o PDF: Mulher tem baixa ascensão em cargo de gestão, indica estudo (DCI, 31/10/2013)