Boletim Comunicadoras Negras – 3ª edição
(Brasília, 8/11/2013)
>> Ministra Luiza Bairros destaca impacto das conferências no governo
Para ministra, debates conferenciais são importantes numa pauta como a racial porque o governo nunca quer se apresentar à sociedade de mãos vazias
A ministra Luiza Bairros recebeu as Comunicadoras Negras para uma entrevista coletiva durante a III Conapir. Por uma hora, foram debatidos temas como o pré-sal, a reforma politica, as políticas de comunicação, a PEC das domésticas, entre outros assuntos que dizem respeito às mulheres negras.
Entre hoje e amanhã os/as internautas podem conferir na Fan Page das #comunicadorasnegras trechos da coletiva de imprensa com a Ministra Luiza Bairros. A entrevista completa está disponibilizada na nossa página.
Neste primeiro vídeo, a jornalista Angélica Basthi pergunta à ministra sobre os impactos da realização da III Conapir dentro das instâncias governamentais. Confira:
>> PEC DAS TRABALHADORAS DOMÉSTICAS #EEUCOMISSO?
Ao longo desses três dias da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial foram muitas bandeiras levantadas e muitas causas debatidas por diversos setores do Movimento Negro. Até amanhã você confere na Fan Page das #comunicadorasnegras uma série especial que confronta as lideranças do Movimento Social Negro do Brasil, em suas diversas representações: Mulheres, Mídias, Direitos Humanos, com os principais questionamentos da sociedade brasileira que se opõe às políticas de ações afirmativas. No vídeo pílula de hoje, Creuza Oliveira, Presidente da Federação Nacional das Empregadas põe por terra uma série de mitos relacionados à PEC das empregadas domésticas. Confira:
>> Mulheres negras anunciam marcha contra o racismo, a violência e pelo bem viver
Por Rivane Arantes
A III CONAPIR não foi apenas palco de encontro da militância negra ou de negociação de políticas públicas para a igualdade racial. Mulheres negras, ativistas individuais e integrantes de organizações de mulheres negras de todo o país se reuniram para debater estratégias para a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, Violência e pelo Bem Viver. O ato, que acontecerá em 2015, em Brasília, já foi lançado no Maranhão, Salvador e Rio de Janeiro. “Fazer o lançamento em Brasília é a oportunidade de tornar a Marcha uma realidade para muitas outras”, lembrou Valdeci integrante da organização Odara da Bahia.
“A Marcha é uma estratégia de juntar as mulheres negras para uma ação de impacto e para estimular a auto-organização nos estados”, afirmou Vera Baroni, da coordenação colegiada da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Analba Brazão, da coordenação executiva da AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras, também acredita que “a marcha vai ser um pretexto grande da gente organizar as mulheres negras nos estados”.
A Marcha está sendo pensada como um processo plural de formação, mobilização e articulação das mulheres negras, incluindo aquelas que não estão organizadas nos estados e municípios. O auge será em 2015, quando as mulheres negras brasileiras marcharão sob o céu de Brasília e apresentarão propostas para o bem viver coletivo. Segundo Vera Baroni, “iremos definir questões inegociáveis para as mulheres negras, colocar para a sociedade nossa identidade negra e ocupar um lugar na história. Queremos vencer a invisibilidade! Queremos ser sujeitos políticos que continuam construindo a história deste país”, afirmou.
>> Discurso de Dilma é bem recebido por mulheres negras
Por Juliana Gonçalves e Jeanice Dias Ramos
A cerimônia de abertura da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial começou com a quebra do cerimonial protagonizada por yalorixás. Cantos a Ogun e à Oyá saudaram a chegada da presidenta Dilma Rousseff e da ministra da Seppir, Luiza Bairros.
Kika Gbessem, conselheira da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (SMPIR/SP), considerou que a presidenta Dilma estava “à vontade” para falar com a população negra. “Ao falar sobre o desenvolvimento, usando balizas como a igualdade e o equilíbrio, a presidenta ressaltou que equipar as diferenças é algo urgente”, disse.
Na ótica de promover a diminuição das desigualdades, Kika espera que a partir de agora as pautas das mulheres negras sejam tratadas como prioridades dentro de todas as políticas públicas.
Para Jurema Batista, subsecretária de Inclusão Produtiva da Secretaria do Desenvolvimento Social do Rio de Janeiro as falas da presidenta e da ministra evidenciam possíveis avanços no futuro. “Dilma não ignorou o fato da pauta da promoção da igualdade racial estar consolidada na nossa sociedade, mesmo que haja divergências, não se pensa em deixar de promover esta política”, considerou ao citar o anúncio do projeto de lei encaminhado ao Congresso que prevê reserva de 20% das vagas nos concursos públicos para negros.
Já Silvana Veríssimo, delegada pelos povos de matriz africana pela cidade de Piracicaba/SP, membro fundadora do Nzinga, participante do Fórum Nacional de Mulheres, demostrou incômodo com promessas feitas nos processos de conferência que não se concretizam. “Na minha avaliação, muitas das políticas públicas de promoção da igualdade estão no faz de conta”, disparou.
Silvana acredita o caráter de “urgência” dado ao Projeto de Lei anunciado por Dilma – que estabelece 45 dias para votação no Senado – ocorreu exclusivamente pela pressão dos movimentos sociais. “Não imaginava a assinatura desse projeto de lei, espero que ele saia do papel”, finalizou.
>> Estado brasileiro ainda vê comunidades de terreiro como folclore
Por Juliana Gonçalves
Para Mãe Celina de Obá, delegada do Espírito Santo, da cidade de Cachoeiro de Itapumirim, o estado brasileiro ainda precisa mudar o olhar em relação às comunidades de terreiro. “Infelizmente ainda somos vistos como parte do folclore nacional; somos apresentados como produto brasileiro, mas isso não se reverte em conquista de direitos”.
A Yalorixá participa da delegação dos povos de terreiro durante a III Conapir. “Essa é a terceira conferência de promoção de igualdade. Nas anteriores foram tiradas muitas propostas que não foram consolidadas”, afirmou.
Ao tomar como base os dados do IBGE (2010), os povos de terreiro são sem dúvidas uma minoria. A população espírita passou de 1,3% (2000) para 2% (2010). Os seguidores da umbanda ou do candomblé são 0,3%, o mesmo percentual registrado no levantamento anterior.
Os povos de santo entendem que o número de praticantes deve ser maior, já que poucos são aqueles que assumem publicamente a religião que praticam, pois temem represálias verbais, sanções sociais, e até mesmo agressões físicas por parte de outros membros da sociedade.
Celina reconhece que só o fato do povo de terreiro estar representado na conferência é um avanço, mas afirma que as condições não melhoraram imediatamente. “Nosso povo anseia nada mais do que igualdade de tratamento e de oportunidade”.
De acordo com ela, durante a abertura da III Conapir, os povos de terreiro receberam uma resposta positiva ao pedido de encontro com a presidenta. “Estou empolgada com a possibilidade da presidenta Dilma sentar conosco pela primeira vez. Ela se comprometeu a nos receber e a Seppir irá intermediar o encontro”, contou Celina.
>> Comunidade cigana se sente invisível no país
Por Juliana Gonçalves
Enquanto os negros brasileiros são tratados como minoria, mas de fato, representam mais da metade da população do País, as comunidades ciganas são de fato minorias. De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE, existem no Brasil cerca de 800 mil ciganos.
Eles participam da III Conapir com cerca de 20 delegados eleitos em todo o Brasil. Anne Kellen, delegada pela Comunidade Cigana de Alagoas, conta que a comunidade ouviu com alegria o discurso da presidenta Dilma na abertura da conferência. “Fomos citados e a presidenta demostrou apoio às comunidades tradicionais”, afirma.
Ontem, no entanto, os ciganos se sentiram excluídos. “Hoje, infelizmente, não escutamos o nosso nome”, disse ao se referir ao segundo dia de conferência.
Segundo Anne, os ciganos sofrem com a falta de emprego e com problemas na área da saúde, como o uso de drogas e alcoolismo. “Estamos morrendo e ninguém sabe. Somos invisíveis, mas não estamos mortos”, desabafa.
Apesar da invisibilidade social, Anne reconhece o trabalho que a Seppir realiza com os povos tradicionais. “A Seppir está abraçando a gente, mas preciso da sensibilidade dos movimentos sociais, inclusive do Movimento Negro que já conquistou tantas coisas e nos inspira muito”.
Para a ministra Luiza Bairros, as questões das comunidades ciganas são as mais desafiadoras para a Seppir. “É com essas comunidades que a alteridade realmente se estabelece, pois culturalmente são as mais diferentes de nós (negros/as) que estamos na incumbência de pensar políticas publicas”, disse Luiza em entrevista coletiva às Comunicadoras Negras.
A ministra ainda afirma que a alteridade não é impeditiva para essa relação com as comunidades tradicionais e garante que está em constante vigilância. “Não podemos reproduzir com os ciganos os erros que os formuladores de políticas públicas brancos cometeram conosco”, finaliza.
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