(Folha de S.Paulo) Organizado na internet pela produtora Ana Rios, ato a favor do topless em praias cariocas teve 8 mil confirmações de presença
Se dependesse das confirmações em uma rede social, mais de 8 mil pessoas teriam participado ontem de um “Toplessaço”, no qual mulheres ficariam com os seios de fora em ato pela liberação do topless nas praias cariocas.
Mas a manifestação reuniu mais homens do que ativistas. Só cinco delas apareceram pela manhã no ponto marcado na praia de Ipanema. Foram rodeadas por cerca de 100 homens, curiosos a respeito do protesto.
No início da tarde, outras cinco se uniram ao grupo. Uma delas foi a produtora teatral Ana Rios, organizadora do ato, que só tirou a parte de cima de seu biquíni depois que o assédio dos banhistas arrefeceu.
“O que mais me impressiona são os homens que vieram aqui ver peitos”, disse. Segundo uma das ativistas, o machismo foi o responsável pela baixa adesão.
“Muitos homens entraram na página do evento para ofender o protesto”, afirmou a atriz Tatiana Henrique.
Acesse em pdf: ‘Toplessaço’ reúne dez mulheres e batalhão de homens em praia do Rio (Folha de S.Paulo – 22/12/2013)
(O Globo) Especialistas creem que machismo inibe a prática
Para historiador, repressão ao topless revela conservadorismo do Rio
A organizadora do toplessaço , a atriz e produtora Ana Rios, atribuiu a baixa adesão ao protesto à repercussão do evento na imprensa. Ela se disse impressionada com o número de homens que foram à praia para ver os seios das manifestantes.
-Acho que as pessoas se assustaram com o barulho. A ideia inicial era mesmo a repercussão, mas isso se transformou num circo midiático. O que mais me impressiona são os homens que vieram aqui para ver peitos – analisou.
A princípio, ela própria se recusou a tirar a parte de cima, inibida pela presença de tantos fotógrafos e curiosos. Mais tarde, ao ver amigas aderindo ao topless, acabou cedendo:
– Hoje (ontem) é o primeiro dia do verão, acho que a gente tinha que ter trazido essa discussão. A ideia de ser algo natural e livre não pode acontecer enquanto tiver essa quantidade de câmeras. Mas a gente está aqui pelo direito de ter esse direito (de fazer topless).
Na avaliação do antropólogo Roberto DaMatta, a curiosidade masculina e a baixa adesão das manifestantes expressam valores da cultura brasileira:
– Ao contrário do europeu, o brasileiro considera os seios algo sagrado, que só podem ser vistos na intimidade dos casais ou quando uma mulher amamenta uma criança. Ou seja, mostrar os seios na praia representa, na cultura brasileira, uma atitude de natureza erótica. A reação foi típica da consciência moral que temos sobre essa parte do corpo da mulher.
Já o historiador Luiz Antônio Simas considera que a baixa adesão das mulheres e a reação dos homens têm a ver com o conservadorismo e o machismo que predominam no Rio, o que quebra o mito de que a cidade lida bem com a nudez:
– Há na mídia e em alguns grupos formadores de opinião uma percepção de que o Rio é progressista. Não é verdade. Esse evento prova que o pensamento progressista é minoria. Aqui predomina um conservadorismo de base cristã muito forte e, além disso, uma cultura machista. É uma maioria silenciosa que se expressa quando ocorrem eventos como esse. Não estou dizendo que isso não muda. Pode mudar, mas leva tempo.
Especialistas creem que machismo inibe a prática (O Globo – 22/12/2013)