(Folha de S.Paulo) A família de Kaique Augusto Batista dos Santos, 16, cujo corpo foi encontrado há 11 dias quase irreconhecível sob o viaduto Nove de Julho, em São Paulo, surpreendeu ontem ao convocar uma entrevista coletiva para dizer que não tem dúvidas de que o garoto se suicidou.
O caso ganhou repercussão internacional porque, enquanto a família dizia que o jovem havia sido morto covardemente por homofobia, a polícia de São Paulo registrou o caso e centrou a investigação na hipótese de suicídio, o que causou revolta em redes sociais.
A morte do adolescente levou a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) a afirmar na semana passada, antes da conclusão das investigações, que ele havia sido “brutalmente assassinado”.
Ontem, ela foi duramente criticada pela secretária estadual de Justiça e Defesa da Cidadania, Eloisa Arruda, que acusou a ministra de fazer “proselitismo com a tragédia alheia”.
Kaique foi visto pela última vez em uma festa gay na região central da cidade.
Segundo a família, seu corpo tinha sinais de tortura, como o rosto desfigurado, estava sem dentes e com uma barra atravessada na perna.
A família levantou a suspeita de que o jovem havia sido agredido por um grupo de skinheads por ser gay.
Peritos que analisaram o corpo, no entanto, disseram à Folha um dia após o reconhecimento que tudo levava a crer que os ferimentos no rosto e a perda dos dentes –segundo a polícia, ele perdeu apenas dois dentes –foram causadas pelo impacto da queda.
Disseram ainda que Kaique sofreu fratura exposta do fêmur, que pode ter sido confundido com a barra –o objeto não foi encontrado.
A mãe de Kaique, Isabel Cristina Batista, pediu desculpas por ter prejudicado a imagem da polícia e até mesmo aos skinheads.
“Eu só tenho a agradecer a todos que me ajudaram nesse momento tão difícil. Agora, vou apenas conviver com essa dor para o resto da minha vida”, disse, chorando.
Isabel disse que o filho não demonstrava sinais de depressão. “Passamos o Ano-Novo juntos. Ele fez vários vídeos, sempre feliz e cantando. Se soubesse que estava com problemas, teria ajudado.”
CÂMERAS
Imagens de câmeras de segurança obtidas pela Folha, posicionadas a cerca de 50 metros do local onde Kaique foi encontrado morto, mostram o garoto sozinho. As cenas foram exibidas à família.
“Ninguém estava perto dele. Ele estava cambaleando, e exames mostram que ele havia bebido”, disse o advogado Ademar Gomes, que auxiliou a família.
Com base nos depoimentos de pessoas próximas de Kaique, como amigos e colegas de trabalho, além de textos de um diário encontrado no quarto do adolescente, o advogado disse que o suicídio pode estar relacionado a uma decepção amorosa.
“Contratamos um psiquiatra para analisar a documentação e ele também cravou suicídio”, afirmou.
Na semana passada, o caso levou entidades em defesas dos direitos LGBT a realizarem um protesto com cerca de 200 pessoas.
Acesse o PDF: Família volta atrás e admite que jovem gay se suicidou (Folha de S.Paulo – 22/01/2014)