(Folha de S.Paulo) Ao menos uma em cada cinco alcoólatras é filha de outra dependente de bebida, afirma a psicóloga e pesquisadora Ana Beatriz Pedriali, autora do livro recém-lançado “Um Passado que Vive -Transmissão Familiar do Alcoolismo Feminino”.
Na pesquisa para sua tese de doutorado, desenvolvida no IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo, a psicóloga acompanhou 62 mulheres alcoólatras e não alcoólatras e concluiu que, além do fator genético, o comportamento e as relações familiares também são determinantes para o desenvolvimento do vício. “Há uma transmissão do comportamento, da violência e dos conflitos. Não há registros desse fenômeno em homens”, diz Pedriali.
Segundo a pesquisadora, a maioria dessas mulheres tinha uma relação conflituosa com mães e avós. “Elas reproduzem o mesmo comportamento com as filhas. São mulheres que aprendem a resolver problemas bebendo.”
A genética responde por 50% a 60% da tendência ao alcoolismo tanto em mulheres quanto em homens, segundo Patricia Hochgraf, coordenadora do Programa Mulher Dependente Química do IPq.
Mas as semelhanças entre os sexos param por aí. “A mulher é mais vulnerável e pode ficar viciada mais rapidamente”, afirma a psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Abead (associação para estudos do álcool e outras drogas). Ao contrário dos homens, que bebem em grupo e em público, as mulheres bebem mais sozinhas. “É um vício escondido. Por isso, o alcoolismo feminino tem menor visibilidade”, explica o psiquiatra Marcelo Santos Cruz, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A enfermeira Márcia Fonsi Elbreder, doutoranda em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz ainda que as mulheres têm mais dificuldade em assumir o problema, procurar ajuda e, quando procuram, desistem do tratamento com mais frequência. “Há obstáculos morais e estruturais. Ainda há muito preconceito. Essas mulheres são mal vistas. Há poucos ambulatórios e muitos não estão preparados para receber mulheres dependentes.”
Acesse a reportagem: Alcoolismo nas mulheres é herança materna, diz estudo (Folha de S.Paulo – 25/11/2010)