(Marie Claire, 28/04/2014) Atendimento funcionou durante gestões de Luiza Erundina e Marta Suplicy e está sendo reativado por prefeitura paulistana
A primeira-dama da maior cidade do país, Ana Estela Haddad, 48 anos feitos agora em maio, concedeu uma entrevista à Marie Claire em três etapas e se desculpou enfaticamente por chegar 15 minutos depois do horário em uma delas.
“Sou perfeccionista e teimosa, mas não intransigente.” Paulistana, filha de uma professora e de um bancário, Ana Estela já nasceu Haddad. Marido e mulher têm o mesmo sobrenome de origem libanesa, mas não são parentes. Ela e Fernando Haddad se conheceram no Esporte Clube Sírio, cinco anos antes de começarem a namorar. Casaram-se três anos depois, ela aos 22 e ele aos 25. Viveram um ano no Canadá estudando e, de volta ao Brasil, tiveram dois filhos, Frederico, hoje com 20 anos, e Ana Carolina, 13.
Moraram a maior parte do tempo no apartamento que compraram no Paraíso, bairro de classe média alta na zona sul de São Paulo, para onde voltaram após os quase dez anos que passaram em Brasília. Nesse período, que Fernando Haddad chegou a ministro da Educação, Ana Estela deixou de dar aula de odontopediatria na Universidade de São Paulo para manter a família unida em torno do marido. A escolha foi difícil, mas abriu novos horizontes. Ela acabou trabalhando também no governo federal, nas pastas de Saúde e Educação, e participou da concepção de projetos importantes, entre eles o ProUni, programa que financia o estudo de alunos de baixa renda em faculdades privadas.
O trato à infância foi a área em que ela escolheu atuar agora. Um decreto assinado pelo prefeito em 28 de agosto de 2013 a nomeou como coordenadora do “São Paulo Carinhosa”, política municipal que tem como público alvo cerca de 860 mil crianças até seis anos. A função de Ana Estela é articular as 14 secretarias que integram o programa. O trabalho é voluntário, não tem carga horária fixa e é compartilhado com a suas atividades na USP, como coordenadora no curso de odontopediatria, que exige 40 horas semanais.
Católica, devota de Nossa Senhora Aparecida, reza toda noite antes de dormir. Mas nem por isso foge de questões polêmicas – pelo contrário. À revista, defendeu o serviço de aborto legal, reativado recentemente pela prefeitura. Confira abaixo parte do bate-papo. A íntegra da entrevista você acompanha na edição impressa de Marie Claire, que chega às bancas no dia 30 de abril.
MARIE CLAIRE – Por que a prefeitura está reativando o serviço do aborto legal?
ANA ESTELA HADDAD – Tem situações que o aborto é legal, como nos casos de estupro e risco de vida para a mãe. Na época das prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy houve um trabalho para garantir o atendimento de urgência nessas circunstâncias. Embora não tenha sido totalmente interrompido, os investimentos deixaram de ser feitos e os espaços foram sendo fechados. Estamos reativando para atender adequadamente as mulheres que necessitam dele.
MC Você é a favor ou contra a descriminalização do aborto?
AEH O aborto criminalizado pode gerar um problema de saúde pública. Mas eu não vou responder se sou contra ou a favor do aborto, pois esse reducionismo é inadmissível em um debate dessa ordem. Essa questão é delicada, envolve crenças. Penso que existem questões anteriores. Por exemplo: em que grau a nossa sociedade está dando aos cidadãos condições de fazer escolhas? Quando a gente vê as situações em que tantas crianças são geradas e mulheres completamente desamparadas, acho que existem questões mais profundas, para além do “a favor ou contra”.
MC E você, já fez um aborto?
AEH Já falei tudo sobre o tema. Não tenho mais nada a acrescentar.
MC Considera-se feminista?
AEH Não participei de movimentos feministas, mas acho importante que as mulheres reflitam sobre a questão de gênero. É função nossa identificar as injustiças e ver o que se deve fazer para corrigi-las.
MC Já experimentou drogas?
AEH Não, só gosto de tomar um vinho ou uma cerveja no fim de semana. Nunca usei drogas ilícitas nem remédios para dormir. E eu e Fernando conversamos com nossos filhos sobre o risco das drogas.
MC Seu filho participou das manifestações no ano passado?
AEH Ele não foi às ruas, mas acompanhou tudo pelas redes sociais.
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